Ao deixar de lado as questões de natureza política e focar na perspectiva econômica, é importante destacar que o governo dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, anunciou um aumento significativo nas tarifas de importação para determinados produtos brasileiros, elevando a alíquota para 50%. A medida impacta diretamente setores da economia nacional e exige atenção por parte de exportadores e investidores que acompanham as relações comerciais entre os dois países. Entre os principais destaques:
- Os EUA são hoje o segundo principal destino das nossas exportações, perdendo apenas da China. Portanto, diversos setores serão severamente afetados caso este nível de tarifa de fato passe a vigorar no dia 01/08. Tarifas neste nivel praticamente tiram os produtos brasileiros do mercado americano.
- Os principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA no ano de 2025 (janeiro-junho) foram, nesta ordem: (i) óleo bruto de petróleo ou de minerais betuminosos; (ii) semifaturados de ferro ou aço; (iii) café em grãos não torrado; (iv) carne bovina; (v) ferro fundido bruto não ligado; (vi) celulose; (vii) óleos combustíveis e preparações de petróleo.
- De acordo com dados do MDIC, o Brasil tem registrado déficits comerciais com os Estados Unidos desde 2009 (ou seja, nos últimos 16 anos). Neste período, as importações de produtos americanos superam nossas exportações para o país em US$ 88,61 bilhões.
- Em 2024 os dados mostram um maior equilíbrio, com exportações para os EUA somando US$ 49,33 bi, e importações dos EUA totalizando US$ 40,58 bi. Ainda assim, o déficit para o Brasil foi de US$ 253 milhões.
- Quando consideramos investimentos feitos no Brasil por outros países, e não só a balança comercial pura e simples, os EUA são os principais investidores estrangeiros por aqui – com uma estoque de mais de US$ 350 bilhões e 4 mil empresas americanas instaladas no Brasil.
- Ou seja: as relações entre EUA e Brasil vão além de “apenas” uma relação comercial, envolvendo trocas bem mais complexas.
- Se por um lado, a essa altura já sabemos que começar uma negociação com tarifas muito elevadas é uma estratégia de Trump, por outro, retaliações do governo brasileiro podem levar a uma escalada parecida com a que vimos ao longo de abril com a China.
- Atualmente a tarifa média que os EUA cobram do Brasil é de 8%. Esta mudança, de 8% para 50%, se confirmada, pode retirar até 0,5% do PIB brasileiro. Ou seja, os EUA sozinhos não levam o Brasil para uma recessão, embora sejam detratores importantes de crescimento.
- Enquanto as empresas exportadoras aguardam definições sobre as tarifas, que agora passam não só pela diplomacia, mas também por questões políticas, é provável que elas interrompam as exportações para os EUA até que se tenham definiçõe mais claras.
- Em um primeiro momento, poucas dúvidas de que câmbio, curva, e papéis de exportadoras serão os principais impactados. Se este impacto perdura ou não, vai depender muito de como as conversas diplomáticas vão evoluir.
- Sobre juros especificamente, não acho que o Copom vá abandonar o Guidance da última reunião, ou seja, no final deste mês os juros deverão ser mantidos. Mas não há dúvidas de que o cenário mudou consideravelmente, e, além de ficar mais incerto, ficou mais inflacionário. Ou seja, o balanço de riscos voltou a ser assimétrico, e se já estava difícil levar a inflação para a meta, se as tarifas forem mantidas o BC vai ter uma prova de fogo pela frente.
De forma geral, e neste primeiro momento, estes parecem ser os principais pontos. As tarifas, a princípio, entram em vigor em 1º de agosto, embora ainda haja espaço para negociações até lá.
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