B.Side Insights

Assets, Fundos & Gestores

Recém-lançado no BTG, fundo temático de health care da JGP tem médica Suy Rebouças como gestora

Recém-lançado no BTG, fundo temático de health care da JGP tem médica Suy Rebouças como gestora
Suy Anne Rebouças Martins, gestora do fundo JGP Health Care

Lançado em fevereiro na plataforma do BTG Pactual, o fundo de ações temático de health care da JGP Asset Management, gestora com mais de R$ 25 bilhões sob custódia, antes disponível para sócios da casa e para o segmento de grandes fortunas, agora também busca atrair um público maior.

A maior curiosidade é que o fundo é tocado pela médica Suy Anne Rebouças, que teve um início de trajetória comum a qualquer profissional da área da saúde e foi aos poucos adentrando no mercado financeiro e descobrindo uma nova paixão.

Formada em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, com três anos de residência em Oftalmologia e cinco anos de doutorado na EPM/Unifesp, Suy Rebouças seguia uma trajetória comum como a de qualquer médico que deseja seguir carreira.

No entanto, tudo mudou quando ela se mudou para os Estados Unidos para fazer um pós-doutorado em Oftalmologia na Universidade Johns Hopkins. “Lá a universidade é muito integrada. Além dos médicos, também há pessoas de venture capital, private equity, gestores de fundo de health care, professores fundadores de empresas de biotecnologia”, conta Suy em entrevista ao B.Side Insights, dizendo que foi neste momento que passou a se interessar pelo novo mundo.

Depois de concluir um mestrado em Finanças na própria Universidade Johns Hopkins, Suy foi ser analista de health care em Nova York durante quatro anos, período em que fez diversos contatos e viveu no coração do maior mercado financeiro do mundo.

Em 2013, ela retornou ao Brasil para se tornar analista global da JGP. De tanto insistir no sonho de ter um fundo focado em health care, a asset aceitou que ela criasse um produto focado no tema em 2016, após diversas apresentações para os sócios.

Por que investir em health care?

Talvez poucos investidores saibam, mas o setor de health care é um dos mais relevantes de diversos índices globais. Ele é o segundo maior segmento do índice americano S&P 500, com participação de cerca de 14%, e corresponde a 13% do índice global MSCI. Já o Russel 2000, índice de small caps, a parcela é ainda maior: 20%, sendo o maior setor.

“É um setor extremamente atraente para investimentos por ser atemporal. Saúde é algo que está sempre na cabeça das pessoas, mas principalmente com a pandemia vimos o quanto a ciência é importante”, afirma a gestora.

Outro fator apontado por Suy é o envelhecimento populacional, tendendo a ganhar cada vez mais importância, já que a pirâmide etária está mudando, com pessoas acima de 60 anos sendo a faixa que mais gasta em cuidados com a saúde. “A cada dia que passa a proporção de idosos está aumentando, justamente porque a medicina vêm evoluindo e melhorando a expectativa de vida. O setor tende a ter essa vantagem em termos econômicos do crescimento da população de terceira idade.”

Características do fundo

Atualmente, a estratégia health care da JGP, contando com feeders offshore e o fundo Brasil, tem cerca de R$ 155 milhões.

O fundo JGP Health Care, apesar de ser temático, é notabilizado por ter uma diversificação com vários subsetores, sendo biotecnologia o carro-chefe, com aproximadamente 33% da alocação, considerado por Suy o mais complexo, lucrativo e atraente. Equipamentos médicos, farmacêuticas, equipamentos de diagnósticos, sequenciamento genético e operadoras de plano de saúde também fazem parte do fundo.

A carteira do fundo conta com aproximadamente 150 ativos, sendo um perfil diferente de outros fundos da JGP, que não tem uma diversificação desse tamanho. Suy afirma que não há concentração máxima de posições, mas o que almeja é que nenhum ativo tenha mais de 9 ou 10% do fundo.

“Quando há uma proporção bem maior de biotecnologia, a volatilidade aumenta muito e geralmente tem um componente idiossincrático. Ou seja, uma ação pode estar subindo 80% e outra caindo 50%”, explica Suy, acrescentando que é necessário ter vários ativos para poder equilibrar o risco, com vários papéis descorrelacionados ou pouco correlacionados. “Não dá para deixar o fundo com 20 a 30 ações, porque você com certeza vai underperformar o benchmark.”

Geograficamente, o fundo investe 85% do seu capital nos Estados Unidos e o restante é dividido entre Europa e, em menor proporção, Ásia.

Vale lembrar que não há hedge cambial no fundo. Ou seja, além da volatilidade do setor de health care, há ainda a variação da moeda refletida na cota.

Histórico do fundo em 2020

Em 2020, o fundo entregou um retorno de 56,38% contra 44,22% do índice de referência MSCI World Health Care. Neste ano, janeiro começou com o pé direito, subindo 6,76%. Apesar do ano excelente, Suy diz que não é adepta a falar de performance anual, mas sim de janelas de tempo maiores.

Ela é categórica ao alertar que, como seu fundo tem um componente de biotecnologia bem maior do que o índice, a volatilidade também é maior. Nos últimos 12 meses, a volatilidade do fundo girou em torno de 33,19%. 

“As ações desse setor caem de elevador e sobem de escada. Esse é um fundo para apreciação de capital. Se você quer conservar capital tem vários outros veículos para colocar seu dinheiro, inclusive aqui na JGP”, diz a gestora.

Para Suy, quem colocar dinheiro no seu produto terá que obrigatoriamente ter uma visão de longo prazo, de, no mínimo, 3 a 5 anos. “Para desenvolver um medicamento, é preciso 10 anos. Não invisto desde o começo do processo de desenvolvimento, mas sim na metade dele”, afirma Suy.

Principais apostas do JGP Health Care

Em conversa com o B.Side Insights, a gestora da JGP apontou duas de suas principais apostas: a Seattle Genetics e a BioMarin.

A Seattle Genetics desenvolve terapias inovadoras, sendo especializada em oncologia, mais especificamente em linfoma e leucemia, praticamente rompendo com o tratamento padrão de quimioterapia que existe atualmente, reduzindo o efeito colateral dos pacientes.

Já a BioMarin é uma farmacêutica que produz remédios para doenças raras como distrofia muscular em crianças, por exemplo. A empresa já não é tão nova no meio, com cinco produtos no mercado, fator que gera ainda mais confiança para a tese de investimento.

Processo de escolha de uma empresa

O processo de gestão começou antes mesmo do fundo nascer, com a experiência de Suy em Wall Street. Quando trabalhava nos Estados Unidos, a gestora conheceu mais de 200 companhias no período em que esteve no exterior.

As ideias que entram no fundo começam, geralmente, de uma conferência médica, de um trabalho científico ou até mesmo de conversas com amigos que também são médicos ou pesquisadores da área.

Depois que a ideia surge, vem a avaliação do time da companhia como, por exemplo, se alguém que está à frente do projeto já conseguiu levar a droga para uma comercialização de sucesso. Também são avaliadas as patentes, que têm que estar protegidas pelo menos de 8 a 10 anos.

O próximo passo de Suy é avaliar os testes clínicos, que têm três fases, avaliando se passaram com resultados expressivos ou um pouco acima da média. Por último, é feito uma análise financeira para entender o fluxo de caixa da empresa, utilizando o método de fluxo de caixa descontado (DCF) para fazer o valuation da companhia.

“É muito raro eu desistir completamente de uma companhia que investi, porque é um setor que tem muitas falhas. Então se você desiste na primeira, você não pegará o upside dela”, finaliza Suy.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Artigo anterior B.Side Daily Report: discurso de Powell eleva cautela do mercado; PEC Emergencial gera alívio pontual no cenário doméstico
Próxima artigo Fechamento B.Side: Ibovespa retoma 115 mil pontos com alívio no fiscal e exterior positivo; dólar tem nova alta e se aproxima de R$ 5,70