Os rendimentos dos Treasuries de 10 anos devem ultrapassar a marca de 2% e podem, inclusive, alcançar o patamar entre 2,5% e 3% ainda em 2021, segundo a visão da ARX Investimentos, asset com mais de R$ 20 bilhões sob gestão.
A casa afirma que a aceleração dos títulos americanos de longo prazo são fundamentadas na recuperação da economia dos Estados Unidos, contudo o que assusta o mercado é a velocidade com que isso acontece.
Nos EUA, o cenário que se apresenta é de uma forte retomada, com a previsão média de crescimento econômico em 2021 em 5,95%, impactada pelo novo pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão e com uma perspectiva de vacinação da população até maio deste ano.
Somado a isso, o Federal Reserve, o banco central americano, sinalizou que deverá manter a taxa de juros, atualmente na faixa entre 0% e 0,25% ao ano, inalterada pelo menos até 2023. O Fed, inclusive, também “se alavancou” no período de pandemia, com seu balanço expandindo cerca de 10 vezes mais do que seu histórico, além de continuar comprando mensalmente cerca de US$ 120 bilhões em títulos.
“Isso tudo cria um contexto no qual o americano está acreditando que irá gerar inflação”, afirma Paulo Bokel, head de Distribuição da ARX, em entrevista ao B.Side Insights, acrescentando que o Fed, diferentemente do BC brasileiro, olha para a inflação e para o emprego, e já deu a sinalização de que a expectativa inflacionária dos EUA fique acima de 2% e se estabeleça nesse nível “por um tempo”.
Segundo ele, o Fed comunicou que não fará nada neste momento em um discurso dovish, mas que o mercado sempre testará a autoridade monetária. Então a discussão que fica é até onde o crescimento dos rendimentos de longo prazo vai sem atuação do banco central.
Assim, o que traz maior cautela para o mercado é a velocidade de alta dos Treasuries de 10 anos, olhando para o histórico de curto prazo. Em outubro de 2018, o título operava acima de 3% e, no meio da pandemia, em meados de julho, desabou para 0,5% nas mínimas históricas. Passado o momento de maior tensão, o título mostrou uma recuperação até o patamar de 0,9% e desde então pegou impulso em forte ritmo de aceleração, alcançando o nível de 1,7%.
“É natural que isso aconteça diante do cenário econômico. O que nos preocupa de certa forma é a que nível esse negócio vai”, afirma Bokel.
Ele ainda destaca que a alta dos Treasuries acaba sendo ruim para os países emergentes, já que acaba se tornando um importante concorrente do dinheiro que vem inclusive para o Brasil.
“Se os Treasuries subirem muito, ou o Brasil vai ter que elevar demasiadamente os juros ou vai acabar perdendo um pouco do fluxo”, explica.
Treasuries para cima e ações de techs para baixo
Para a ARX Investimentos, o movimento de queda das ações ligadas ao setor de tecnologia estão diretamente ligadas ao valuation “esticado”. Essas companhias sofrem mais porque na hora que a taxa de juros começa a subir, o valor presente delas precisa cair.
“Quando o dinheiro não custa nada, as empresas podem não dar dinheiro por muito tempo. Mas quando o dinheiro começa a ficar mais caro, o fluxo de caixa começa a incomodar”, diz Bokel, adicionando que estamos vendo um cenário em que investidores deixam os papéis de growth rumo às ações de value.
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