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Newton Tech Fund

O Newton Tech Fund é um fundo de ações que traz a experiência do Venture Capital para a Bolsa de Valores, na avaliação de empresas de base tecnológica listadas em Nasdaq, NYSE e B3. O Fundo é gerido pela Catarina Capital e tem foco em companhias líderes e expoentes em segmentos como Semicondutores, Segurança Cibernética, Computação em Nuvem, SaaS, E-commerce/Marketplaces, Fintechs, Redes Sociais, Games e Streaming. Mais informações em newtonfund.com.br

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O que muda para o Facebook após troca de nome para Meta?

O que muda para o Facebook após troca de nome para Meta?

Mark Zuckerberg anunciou um reposicionamento importante para o Facebook Company, que passa a se chamar Meta, em alusão ao termo Metaverso, espécie de universo paralelo tido como a atual fronteira do desenvolvimento social na web. Os produtos atuais (Facebook, Instagram, Whatsapp, Messenger) persistem com suas próprias marcas, ao passo que o modelo de receita do grupo, totalmente focado na venda de mídia, também persiste inalterado.

Muitos comentaram que a transição para Meta apenas copia a anterior criação da Alphabet pelo Google, mirando a valorização das ações da companhia através de um movimento que evidencia o valor intrínseco do seu roadmap de P&D. Esse argumento pode até fazer sentido, mas é inevitável não olhar para uma diferença clara entre os dois casos: enquanto o Metaverso é um objetivo-fim para o Facebook, a Alphabet é um formato organizacional que opera um grande laboratório com possíveis aplicações de inteligência artificial (Google + Other Bets). Enquanto um modelo foca em valorizar um negócio baseado na conclusão de um roadmap, o outro modelo foca na valorização do durante de suas tentativas. Ambas as valorizações soam como promessas, mas não se pode negar que o movimento do Metaverso parece ser ainda mais abstrato para o Facebook, do que eram as Other Bets para o Google à época da criação da Alphabet.

Então por que aproveitar o momento de agora para anunciar uma transição de posicionamento tão relevante, antes mesmo de escalar a oferta de tecnologias nesse sentido?

Os mais críticos podem salientar que o momento do anúncio se trata, na prática, de uma forma habilidosa de esquivar o Facebook de uma série de questionamentos sobre a real sustentabilidade de um business extremamente lucrativo nos tempos atuais, mas que sofre da total dependência de dados e informações de seus usuários (com e sem consentimento) para conseguir se manter. A Apple atacou a jugular dos principais players em redes sociais recentemente, empoderando seus usuários para que possam restringir o compartilhamento de suas informações para o disparo de anúncios de terceiros. Foi uma ameaça dura às perspectivas de crescimento do modelo de receita dos líderes de mercado de ferramentas sociais, causando quedas de valor de ações em diversos players, com destaque ao tombo de 20% no valor de Snapchat no dia de seu anúncio de resultados para o 3º trimestre de 2021.

É curioso, no entanto, que a própria Apple também não enfrente restrições para fazer uso dos mesmos dados que se propõe proteger, por mais que a maçã não busque vender mídia online através deles. Como muitos sabem, os governos globais já têm discutido ferrenhamente sobre como regular o tema, com embates polêmicos e muitas vezes bizarros sobre o oligopólio das FAAMG (agora MAGMA?) – ainda não muito conclusivos, por mais que as penalizações financeiras às Big Techs, especialmente na União Europeia, já sejam bastante salgadas.

Se a concentração de informações privadas por empresas de tecnologia já é motivo de alarde global, imagine o domínio de universos paralelos para convívio de pessoas para além do mundo real? Haja ansiolítico para os congressistas americanos, visto que estamos diante de uma rota tecnológica sem volta – uma nova era para a Internet, com o potencial de quebrar até mesmo o antigo paradigma da soberania das nações.

Agora, será realmente que o Facebook será o líder inconteste nesse movimento, ao passo de se autodenominar Meta?

Vamos concentrar esforços em esmiuçar melhor esse tal “Metaverso” descrito por Zuckerberg, onde, segundo ele, finalmente as conexões entre pessoas serão mais importantes do que a tecnologia em si (ótimo discurso para o melhor vendedor de mídia que o mundo já conheceu).

Muita gente busca simplificar o conceito de Metaverso como o desenvolvimento de Universos Virtuais, locais fictícios onde as pessoas podem interagir entre si por meio de avatares. Essa interpretação mais típica do Metaverso alinha-se a um conjunto amplo de ambientes virtuais já disponíveis no mercado, especialmente no setor de games. Jogos como o Farmville, um dos responsáveis pelo crescimento exponencial da Zynga, já traziam elementos de interação virtual, inclusive dentro do próprio Facebook. O Minecraft, hoje da Microsoft, nada mais é do que uma espécie de Metaverso dos blocos. A Activision Blizzard, criadora do World of Warcraft, é responsável por vários dos Metaversos dos dias atuais – aliás, várias companhias líderes em games prosperam atualmente pela infinita capacidade de monetização de artigos digitais em seus Metaversos – quem conhece a Roblox e seus Robux que o diga: a empresa basicamente exponencializou as possibilidades de interação e monetização entre pessoas em ambientes gamificados.

Agora, se analisarmos literalmente o sentido da palavra metaverso, começamos a perceber por que o termo entrou em voga mais recentemente, especialmente quando a Realidade Virtual (VR) começou a dar mais espaço à Realidade Aumentada (AR) e, como consequência, a uma mescla mais aplicada entre funcionalidades digitais e físicas para uma experiência virtual mais imersiva (Realidade Mista – MR). Um metaverso nada mais é do que um “universo que transcende”, um universo metafísico, independentemente de sua essência 100% digital ou não. E é aqui que o Facebook parece apostar suas fichas. O lançamento de um par de óculos com Realidade Aumentada embarcada, em parceria com a Ray-Ban, já dá uma deixa interessante: talvez os metaversos funcionais possam ser bem mais simples do que se imagina, muito menos virtuais e mais “aumentados”.

Mas para que diabos vai servir um “Metaverso Aumentado” no dia a dia? Para continuarmos jogando como heróis e monstrinhos? Como isso pode realmente aumentar a eficiência das pessoas e dos negócios? Vamos ficar fazendo calls de Microsoft Teams e Zoom usando avatares coloridos? É para isso que serve toda essa parafernália virtual? Quais novos paradigmas os metaversos podem realmente quebrar?

Logicamente não existe certo ou errado quando falamos de fronteira da ciência, mas vou me permitir alguns pensamentos para destacar onde realmente enxergo valor aos Metaversos – e porque acho que o Facebook vai jogar bem esse jogo, mas estará longe de liderá-lo.

Vamos por partes.

Quando analiso roadmaps de empresas de inovação tecnológica, assim como todo Venture Capitalist de formação, gosto de tentar entender quais “dores” reais de mercado serão atacadas por uma nova proposição tecnológica.

É curioso pensar como algumas das dores do mundo digital não são mais apenas derivadas de ineficiências apresentadas pelo mundo físico, mas sim de ineficiências novas, trazidas pelo próprio mundo digital na sua confusão de desenvolvimento. A Internet trouxe uma abundância de informações para todos, acessíveis e compartilháveis a qualquer momento, por qualquer pessoa. O mundo acabou se transformando numa imensidão de conteúdo, sofrendo enormemente para discernir conteúdo bom de conteúdo ruim, não sabendo como viabilizar a curadoria de conteúdo conforme demanda e, talvez mais importante, como efetivamente vetar conteúdo agressivo à sociedade.

Aliás, como é difícil a discussão de quais são os limites para a democracia da publicação e acesso ao conteúdo nas redes – quais são os limites para propagação da fake news, por exemplo?

Fato é que a abundância de informação online não trouxe apenas problemas na gestão e disseminação da própria informação – estão emergindo problemas sociais bem mais críticos: problemas de alinhamento entre a expectativa e a real capacidade de produção das pessoas e dos negócios. Com a velocidade de acesso e assimilação de informação em incessante expansão, como fazer com que tantas novas ideias e oportunidades possam ser sim supridas pelo trabalho das pessoas? Como evitar com que uma pessoa ou negócio não se frustre ou morra de ansiedade ao se deparar com tanto conhecimento e tão pouca capacidade de entrega de tudo que se aprende e vislumbra? Enfim – como fazer com que pluralidade de informação e de produção possam seguir socialmente em ritmo mais sincronizado?

É aqui neste cerne em que enxergo a dor real e a rota tecnológica a ser desenvolvida pelos Metaversos. Lugares reais, aumentados, em que o virtual serve para escalar a capacidade de produção das pessoas e dos negócios e acompanhar a capacidade desenfreada de absorção de conhecimento. Os metaversos vão oferecer ferramentas aumentadas capazes não só de aplicar a inteligência artificial como replicação do comportamento do indivíduo, mas sim como replicação de um comportamento coletivo, simulando e resolvendo demandas de produção em espaços paralelos.

Na prática: não vamos apenas ter um algoritmo que recomenda produtos que talvez queiramos comprar ao ver vídeos, postagens e notícias sobre determinados temas nas redes – vamos sim ser apresentados a pessoas cujos conhecimentos sejam complementares aos nossos, e cuja associação facilite o desenvolvimento de novos produtos e serviços para otimizar a vida de um volume ainda maior de pessoas. Uma solução aumentada que entenda que você busca um emprego, por exemplo, e te apresenta pessoas com aptidões para compor uma equipe, criando um ambiente de trabalho virtual entre elas e gamificando a experiência de criação coletiva. Sem você sair de casa e, mais incrível, sem você necessariamente entender que está interagindo com outras pessoas.

Parece ficção científica? Talvez seja. Mas a verdade é que a coletividade permitida pelo movimento dos Metaversos é tão complexa e intrigante que dificilmente consigo enxergar um player líder no já tradicional mundo da mídia online como o cavalo vencedor dessa transformação. Será muito difícil para o Facebook tirar o olho de sua formidável máquina de monetização do consumo virtual para adentar num roadmap tão profundo quanto esse disposto pela espacialização da inteligência artificial. Para mim, parece se tratar da velha máxima do gigante sendo engolido ou, ao menos, tendo que se confortar em conviver com inovadores pequeninos, que crescerão exponencialmente ao sintetizarem P&D de Realidades Mistas em aplicações reais.

Diante disso – há alguém em que faça sentido apostar já agora diante de tantas hipóteses e sem certeza alguma de como o conceito de metaversos se desenrolará na sociedade?

Pode parecer contraditório, mas já existem vencedores iminentes nesse movimento. Nvidia e sua solução Omniverse talvez seja o mais nítido desses players, uma plataforma que usa toda a capacidade das GPUs da empresa para compor ambientes virtuais de colaboração em tempo real. A base da solução já está sendo adotada como fundamento para a criação de uma série de outros metaversos anunciados, se portando com um gerador coletivo de outros ambientes virtuais.

Outros exemplos se dão nas companhias que provêm tecnologia para aumento dos pontos de acesso à interação com Metaversos, o que exige inovações disruptivas na cadeia de desenvolvimento de novos protocolos em Internet das Coisas (“IoT”) – neste aspecto, destacam-se novamente players em semicondutores, com destaque a líderes em FPGA, espécies de chips programáveis, cujo líder global é a Xilinx, companhia em trâmite de ser adquirida pela AMD.

Mais exemplos? É quase clichê aqui falar sobre segurança cibernética – afinal, tudo o que exige maior gestão e manipulação de dados requer mais segurança sobre eles. Quando falamos de metaversos, no entanto, é impossível não enfatizar companhias já líderes em gestão de identidade e acesso, como a Okta. Afinal, mesmo estando em ambientes de realidade mista, às pessoas ainda tendem a querer pelo menos ter certeza de que ainda existem como identidades únicas e protegidas nas redes, ou seja, como indivíduos.

Em resumo: metaversos estão muito longe de ser apenas games ou avatares simpáticos para a interação entre pessoas em ambientes virtuais – estamos falando de uma nova rota tecnológica para uma produção colaborativa massificada, capaz de acompanhar o ritmo da assimilação desenfreada de informação disponível nas redes. Por ora, o que nos resta fazer é monitorar de perto os desenvolvimentos e, com atenção, identificar algumas bases tecnológicas essenciais que serão empoderadas neste movimento. E torcer para que, em breve, num desses metaversos, já não surja uma produção coletiva que disrupte os próprios metaversos em si – afinal, quem sabe o que a inteligência artificial coletiva poderá criar?

Sobre o autoro Newton Tech Fund é um fundo de ações que traz a experiência do Venture Capital para a Bolsa de Valores, na avaliação de empresas de base tecnológica listadas em Nasdaq, NYSE e B3. O Fundo é gerido pela Catarina Capital e tem foco em companhias líderes e expoentes em segmentos como Semicondutores, Segurança Cibernética, Computação em Nuvem, SaaS, E-commerce/Marketplaces, Fintechs, Redes Sociais, Games e Streaming. Mais informações em newtonfund.com.br.

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