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Demanda por crédito privado aumenta com oportunidades mais atrativas no mercado primário e em saídas de lock up

Demanda por crédito privado aumenta com oportunidades mais atrativas no mercado  primário e em saídas de lock up
A 10ª emissão de debêntures da concessionária Autopista Litoral Sul, controlada pela Arteris, mostrou uma altíssima demanda

O mercado está de olho na renda fixa, especialmente no crédito privado. Pelo menos é isso o que mostra o apetite do investidor local nos últimos meses. Segundo dados da Anbima, as debêntures captaram R$ 23,1 bilhões em outubro (segundo melhor mês do ano, perdendo apenas para abril), o que representou 63,8% de todo o volume do mercado de capitais no mês.

Mas, diante de um volume tão expressivo, onde estão as melhores oportunidades para o  mercado de crédito privado? Na opinião de Odilon Costa, analista de renda fixa e crédito privado do BTG Pactual, o investidor encontra atualmente as oportunidades mais interessantes principalmente no mercado primário e, em menor escala, na saída de lock up, isto é, em papéis que estão deixando o mundo puramente institucional e estão começando a transitar na mão de mais investidores.

“Ambos os papéis estão com um prêmio muito maior sobre os pares que estão no secundário há mais tempo”, afirma Costa, em entrevista ao B.Side Insights.

Vale destacar que o mercado primário é aquele no qual uma companhia realiza uma nova emissão e vende diretamente suas ações ou dívida para investidores interessados, enquanto que, no mercado secundário, um investidor já detém um papel e procura outro interessado para fazer negócio, com ambas as partes tendo que aceitar as mesmas condições para realizar a operação.

Recentemente, tivemos um ótimo exemplo de como o mercado primário paga hoje tão mais do que o secundário. A 10ª emissão de debêntures (mercado primário) da concessionária Autopista Litoral Sul, controlada pela Arteris, apesar da altíssima demanda, saiu com um prêmio de +0,60% em relação à NTN-B de 2028, considerado por Odilon Costa como um bom prêmio de crédito (o que os títulos privados pagam além dos títulos públicos). Caso um investidor quisesse comprar o mesmo papel no mercado secundário, ele compraria o título “careca”, jargão do mercado utilizado quando um papel não tem nenhum prêmio de crédito.

E por qual motivo isso vem acontecendo? O analista do BTG explica que as empresas, no geral, estão antecipando captações em 2021, já prevendo que o ano que vem será mais desafiador. “Embora o mercado de renda fixa tenda a continuar favorável por causa dos juros mais altos, muitas empresas querem terminar o ano com o melhor balanço possível e caixa bastante reforçando para 2022 para justamente mitigar essas incertezas.”

No entanto, quem estiver atrás de prêmios mais atrativos precisará correr um pouco mais de risco e , já que, olhando pelo lado do crédito privado, estamos vendo um movimento de compressão dos prêmios de crédito. Odilon Costa elenca dois motivos para esse fenômeno: o primeiro, mais fundamentalista, é justamente a melhora dos balanços das empresas pós-pandemia, e o segundo por conta do fluxo, já que há um movimento muito forte de entrada em renda fixa, especialmente de crédito. “Em um cenário de prêmios mais comprimidos, o mercado está demandando mais taxas. Vemos muita mais demanda dos investidores por papéis mais high yield por conta do prêmio de crédito.”

Quando olhamos para papéis high grade (ativos de maior qualidade e com menor risco), de grandes nomes muito conhecidos do mercado, especialmente aqueles com indexação ao IPCA, há prêmios muito pequenos e até negativos. “Olhando apenas a taxa nominal, faz mais sentido comprar uma NTN-B do que uma debênture isenta da Petrobras, por exemplo”, afirma o analista do BTG.

Mas ao olhar para papéis high yield (ativos mais arriscados e com possibilidade de retorno maior), Odilon Costa não vê grandes riscos setoriais, visto que as companhias, independente do emissor, estão menos alavancadas no Brasil, complementando que algumas empresas performaram muito bem por causa do boom das commodities. “Não vejo nenhum setor mais pressionado por conta do fundamento macro, com exceção da parte elétrica, especialmente geração hidrelétrica, que está em um momento mais sensível.”

Nem mesmo o ciclo de elevação da taxa básica de juros é visto como um risco relevante, já que, nos últimos anos, as empresas se preocuparam em diminuir o nível de alavancagem e alongar o perfil de suas dívidas. “Os emissores brasileiros estão muito mais preparados para uma eventual alta do ciclo da taxa Selic do que antes”, analisa o especialista.

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