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ARX, Vinland, Occam e Garín: visões de quatro gestoras sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia

ARX, Vinland, Occam e Garín: visões de quatro gestoras sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia

Madrugada de quinta-feira (24) da semana retrasada. Rússia iniciava a operação para invadir a Ucrânia. Desde essa data, o mercado financeiro global foi tomado por um sentimento de maior aversão a risco e cautela, tentando entender quais serão os desdobramentos do conflito geopolítico.

Por aqui, no Brasil, há praticamente um consenso que a guerra no Leste Europeu terá dois efeitos imediatos: inflação global e, como consequência, aumento de juros em praticamente todos os países relevantes para a economia mundial.

Para se proteger nesse cenário, a classe de ativos escolhida entre diversos gestores brasileiros é a posição em commodities.

Confira abaixo comentário de quatro assets independentes sobre os desdobramentos do conflito entre Rússia e Ucrânia:

ARX Investimentos

Paulo Bokel, Head de Distribuição – Na realidade, ainda estamos tentando entender o que está acontecendo ou o que vai acontecer.

O que estamos tentando entender é qual o tamanho desse movimento que teremos e isso depende de quando a guerra acabará. Temos uma cabeça de que a guerra ainda irá demorar para acabar. Por mais que a acabe agora, teremos um efeito lá na frente também. E o grande problema é como quantificar isso no final do dia.

Olhando para o Brasil, há uma defasagem no preço do petróleo de cerca de 30%. Imagina o impacto que isso terá na inflação. Em termos de alocação, tínhamos reduzido as posições, principalmente no nosso multimercado, na sexta-feira (25), antes do Carnaval. Bolsa provavelmente no curto prazo sobe por conta do fluxo de commodities, os juros já estão subindo, e o dólar por outro lado caindo. A grande pergunta é se essa dinâmica continuará ou não. E o cenário muda a cada 5 minutos.

O cenário que é claro para nós é inflação e juro para cima no mundo todo.

Vinland Capital

Felipe Arslan, Sócio-fundador e RI – Pouco mudamos o nosso posicionamento (desde a invasão), porque já estávamos carregados em commodities antes dos acontecimentos.

O portfólio já vinha com posições que traduziam nossa visão macroeconômica para o Brasil e para o mundo. Nossa tese central continua sendo que a inflação continuará incomodando aqui e no mundo e os bancos centrais precisarão continuar fazendo ajustes monetários, subindo os juros mais que o esperado.

Assim, estamos tomados nos juros dos EUA e na Colômbia como nossas principais posições. Além disso, estamos comprados em inflação no Brasil e em Bolsa, praticamente zerados.

Com a guerra, o discurso do Fed acabou sendo mais dovish, dizendo que precisará adotar cautela no ajuste monetário, para não dar um choque muito grande na economia. Nós acreditamos que o Fed já está muito atras da curva e uma guinada para o lado hawkish deverá ser ainda maior do que prevista antes da guerra. Mudamos nossa visão de 50 basis points para 25 basis points nesta reunião de março. Devido à guerra, os EUA talvez façam um ciclo maior. Olhando para tudo isso, continuamos posicionados para capturar essa alta de juros.

Além disso, estamos posicionados em quase todas as commodities, desde petróleo, (por meio do ETF de energia XLE), minério de ferro, açúcar, aço, grãos e proteína animal.

Temos menos risco na carteira até entender a dinâmica da guerra, se haverá uma escalada das tensões, por exemplo. Também temos a preocupação com a atuação do Fed em relação à inflação dos EUA. Tudo isso contribui para um ambiente turbulento menos propício para tomar um posicionamento de mais risco.

Occam Brasil

Pedro Dreux, Portfolio Manager – Nossa visão mudou pouco mesmo após esse evento agudo. Ainda enxergamos um mundo inflacionário.

Com o aumento da volatilidade, principalmente na renda fixa dos Estados Unidos, mercado que a Occam tem explorado bastante na tese de normalização de juros e alta da inflação, ajustamos os tamanhos das posições.

Nos EUA, diminuímos as posições tomadas em juro nominal, zeramos a posição tomada em juro real e zeramos posições no Leste Europeu. Mantivemos um portfólio tomado em emergentes: Brasil, México e África do Sul.

Nos impressiona um pouco a maneira como os ativos domésticos estão se comportando, principalmente o câmbio.

Temos posições tomadas na parte curta e intermediária da curva no Brasil, acreditando que o Banco Central terá que estender um pouco além o ciclo de aperto monetário. Hoje, o mercado precifica uma Selic terminal acima de 13%/13,5%, mas é curioso como após as eleições o mercado precifica um ciclo de corte considerável de aproximadamente 200 basis points. Acreditamos que com o tempo e frustrações, o mercado tende a eliminar esse ciclo de cortes e estender um pouco além esse ciclo de aperto monetário.

Duda Rocha, Portfolio Manager – Priorizamos posições extremamente líquidas.
Em equities, continuamos perseguindo o tema de commodities, particularmente o setor de energia, com empresas relacionadas ao petróleo. Ao mesmo tempo, diminuímos o tema financeiro da carteira, e fizemos ajustes, “protegendo” empresas de tecnologia como Apple, Microsoft e Google, que continuaram a gerar alfa (retorno) em comparação com o índice Nasdaq.

Expandirmos o risco protegido em Brasil, com os setores de energia (petróleo), além de outras commodities como minério de ferro, siderurgia e proteína animal.

Acreditamos que o Brasil pode performar melhor do que outros emergentes.

Garín Investimentos

Paschoal Paione, Portfolio Manager do fundo Garín Cíclico – Historicamente, o preço de commodities e inflação aumentam em períodos de guerra. Primeiro, porque há um esforço de guerra focado em matérias-primas. Segundo, há uma necessidade de estocagem, seguido por uma queda de demanda menor do que a queda de oferta, e, por fim, conflitos geram uma interrupção adicional na cadeia de suprimentos. Assim, também gera um consumo de estoque.

Olhando a característica de outros períodos e comparando com o atual, é alta a chance de os ativos de commodities continuarem performando bem em um cenário de inflação, principalmente porque a maior parte desse processo inflacionário vem de matérias-primas.

Primeiro sobe o preço da commodity para bater depois na inflação.

Estamos com um nível de oferta e demanda bastante apertados, e, além disso, temos pouca visibilidade de entrada de capacidade porque não há projetos novos, os estoques estão em níveis historicamente mais baixos nos últimos 5 anos e a atividade continua forte.

Considerando os componentes estruturais do ciclo e a conjuntura econômica, ainda sim é uma situação positiva para commodities.

Temos como foco, principalmente a Ásia, com maior posição na China, em metais básicos, infraestrutura (aço) e energia. São os três blocos de commodities que mais gostamos.

Estamos otimistas por serem hedges (instrumento de proteção) inflacionários e hedges geopolíticos.

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