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Helena Veronese

Economista-chefe da B.Side Investimentos.

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Banco Central já poderia ter encerrado ciclo de alta de juros

Banco Central já poderia ter encerrado ciclo de alta de juros

Não é novidade para ninguém que vivemos um cenário de inflação global bastante elevado. Aqui no Brasil, temos uma inflação prioritariamente de oferta, causada por um choque do petróleo e por gargalos na cadeia produtiva mundial, enquanto nos Estados Unidos, uma inflação de demanda, com um mercado de trabalho extremamente aquecido, proporcionando salários muito elevados e famílias com muita poupança. Seja lá como for, inflação de oferta ou de demanda, o remédio é o mesmo: juros.

Aqui vale destacar que um banco central sobe juros para reduzir a demanda e igualá-la à oferta ou simplesmente porque a demanda está alta demais. No Brasil, estamos com uma taxa de juros extremamente contracionista. Estima-se que a taxa neutra – a taxa de equilíbrio que não é nem contracionista e nem expansionista – seja entre 7% e 8% ao ano. E já ultrapassamos esta faixa faz tempo. Nos EUA, o Federal Reserve, o banco central americano, ainda não está nem perto da taxa neutra. Ou seja, são ciclos totalmente diferentes de alta de juros.

Por aqui, com a taxa Selic a 12,75% ao ano, o mercado entende que haverá, pelo menos, mais uma alta adicional de meio ponto percentual na reunião de junho e, a depender dos próximos dados econômicos, uma outra em agosto, conforme sinalização do Banco Central.

Minha leitura é que o BC já poderia ter parado o ciclo de ajuste, porque há um delay grande entre a política monetária e seu impacto na economia real nos dados de inflação. Então, toda política monetária que foi feita nos últimos seis meses irá começar a impactar agora a economia. 

Claro que se tivermos novos desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia ou um novo choque do petróleo, esse cenário, de fato, demanda uma alta de juros mais forte, mas se tudo continuar constante, o Banco Central já poderia parar por aqui o ciclo de aperto monetário. Ao contrário do Fed, que começou a subir juros agora. Por lá, o banco central americano terá que acelerar mais do que vem sinalizando.

Acredito que no Brasil a inflação esteja chegando no teto, e ainda podemos enxergar picos inflacionários por alguns fatores pontuais como, por exemplo, novas altas dos preços de combustíveis. Embora a inflação esteja disseminada, a tendência é que comecemos a observar um leve arrefecimento, mas vale destacar que o BC já está olhando para 2023 e só elevaria juros se as expectativas do ano que vem estiverem desancorando. Se chegarmos a um pico daqui a um ou dois meses, isso não faz tanta diferença. O que importa agora é o horizonte relevante de política monetária, justamente por conta desse delay. Mas pensando em 2023 ainda há tempo desse delay acontecer e da política monetária fazer efeito.

Olhando para o mercado de renda fixa doméstico, o que deve fazer mais preço na curva hoje é o Fed. Se percebermos uma inflação muito alta no mundo, principalmente nos Estados Unidos, aí talvez o mercado pense que o BC daqui também tenha que subir ainda mais os juros. 

O risco maior pensando só em economia doméstica agora é a parte longa da curva abrir mais (juros futuros subirem), porque tem eleição se aproximando e todo um discurso em torno do cenário fiscal. A ponta mais longa da curva que irá oscilar mais por conta desses motivos citados anteriormente. Já a ponta curta até tem um espaço para abrir dependendo da sinalização do BC, mas é pouco e nem perto do que aconteceu nos últimos meses.

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