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“Ficar comprado em Brasil e vendido em Europa e EUA ainda parece bastante óbvio”, afirma sócio da RPS Capital

“Ficar comprado em Brasil e vendido em Europa e EUA ainda parece bastante óbvio”, afirma sócio da RPS Capital

Assim como neste ano, a Bolsa brasileira deverá continuar performando melhor do que seus pares globais em 2023. Pelo menos é isso o que afirma Victor Alcalay, sócio da RPS Capital. Ao olhar para o cenário macroeconômico, ele afirma que EUA e Europa ainda terão dificuldades para conter a inflação, e a elevação de juros deve levar as duas regiões a uma recessão no ano que vem. “Na nossa visão, deve haver uma revisão de lucros de 15% a 20% nos EUA em 2023 e isso deveria ser o principal motivo para fazer a bolsa americana cair um pouco mais do que hoje.”

Assim, Alcalay considera que mesmo se a bolsa americana performar bem, a Bolsa brasileira deve ir ainda melhor, independente do resultado do segundo turno das eleições, já que, segundo ele, o Brasil está muito melhor comparado a outros países da América Latina, especialmente na questão fiscal. “Então ficar comprado em Brasil e vendido em Europa e EUA ainda parece bastante óbvio”, diz o sócio da RPS.

Ao olhar para o cenário eleitoral brasileiro, ele afirma que a grande surpresa das eleições do primeiro turno foi a formação do Congresso, com um número de candidatos de centro-direita 20% acima das projeções, o que impediria uma ruptura econômica radical em uma eventual eleição de Lula. “E este era o grande medo de cauda do mercado.”

A visão otimista para Brasil é refletida na performance do fundo RPS Long Bias, que acumula uma performance positiva de 19,6% contra 5% do Ibovespa até setembro deste ano. Desde o início, em dezembro de 2018, o fundo também entrega um retorno acumulado de 48% ante valorização de 25,2% do principal índice da B3.

Entre as características para uma performance tão positiva, a RPS Capital destaca alguns pontos, entre eles o dinamismo, já que operam bastante o cenário macro, uma das principais características da casa. “O macro é sempre predominante na RPS. Temos como filosofia e isso acaba funcionando muito bem, principalmente, em momentos de grandes rupturas como estamos vendo esse ano”, explica Alcalay, que ainda destaca que o long biased gosta de operar muito via opções. “Opção talvez seja o melhor instrumento para limitar perdas e este talvez seja o maior objetivo do fundo, muito mais do que entregar ganhos muito acima de Ibovespa”, explica Alcalay.

Principais posições do fundo RPS Long Bias

Se o cenário externo para ativos de risco é considerado mais complicado, a visão para Brasil tende a ser um pouco mais cristalina por conta de alguns fatores, na opinião da RPS: panorama fiscal melhor do que o esperado mesmo com auxílios sociais robustos, atividade em ritmo de aceleração e o fim do ciclo de aumento de juros no País.

Assim, a casa passou a apostar em ativos com um beta maior, isto é, com uma relação risco/retorno mais elevada, casos de MRV e Banco Inter. “Consideramos que há boas assimetrias (nessas empresas), especialmente quando o macro está a nosso favor”, afirma Victor Alcalay.

O investimento na empresa do setor de construção é justificado por uma combinação entre o macro e o micro, que devem ajudar a ação de MRV a performar bem olhando para os próximos anos. Primeiro, a empresa deverá ser beneficiada com o movimento de quedas de juros, que deverão acontecer a partir da metade de 2023. Além disso, um possível governo Lula deve focar no programa Casa Verde e Amarela, antigo Minha Casa Minha Vida, o que aumentaria a concessão de crédito. A RPS estima que o lucro da empresa pode crescer de 30% a 35% nos próximos 3 a 4 anos. Somado a isso, consideram que a empresa é negociada por um ROE (Retorno sobre Patrimônio) de 12%, mas que pode alcançar o patamar de 17%.

E, assim como MRV, Banco Inter também deve ser beneficiado pelo cenário de corte de juros no Brasil. Apesar de ter sofrido uma queda de 95% em relação às máximas, a parte operacional da empresa segue com um viés positivo, com crescimento da base de clientes, provisões para devedores duvidosos (PDD) devem estabilizar próximos dos níveis do segundo trimestre e o banco deve, finalmente, virar sustentável em termos de caixa e lucro. “Esperamos que o Banco Inter entregue lucro líquido para o quarto trimestre deste ano e para 2023 inteiro. Apesar de seguir crescendo muito, a empresa não precisará de mais capital externo para crescer. Além disso, está em um valuation super barato”, explica Alcalay.

Olhando para papéis considerados mais defensivos, a RPS aposta em duas empresas que já estavam na carteira do fundo antes das eleições e o resultado do primeiro turno levou a um aumento de posições: Sabesp e Copasa. Em relação à Sabesp, a companhia disparou após Tarcísio de Freitas, candidato a governador de São Paulo, registrar boa vantagem em relação ao concorrente Fernando Haddad. “Ainda achamos que pelos preços atuais, Sabesp tem 25% a 30% para se valorizar, pelo menos. Se ela for privatizada, aí temos um cenário de valorização de 50% a 60%”, projeta o sócio da RPS.

Mas o que não faz sentido neste momento? Para Victor Alcalay, uma assimetria que não positiva para este momento são as companhias de e-commerce. Apesar de elas se beneficiarem da queda dos juros, são empresas alavancadas, em um setor com pouco crescimento para os próximos dois anos. Olhando a dinâmica competitiva do segmento, para ele, Mercado Livre nunca esteve numa posição tão boa para crescer market share, já tem muito caixa, melhorou o serviço de entrega e está com muito mais sortimentos do que os concorrentes. “(Mercado Livre deve, de fato, melhorar muito mais do que as outras no relativo e isso deve trazer mais dificuldade de crescimento para Via, Magalu e Americanas”, diz. “Para piorar a situação ainda mais, a Amazon está chamando a nossa atenção, empresa que vem crescendo muito mais do que imaginávamos no Brasil e está super capitalizada.”

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