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Helena Veronese

Economista-chefe da B.Side Investimentos.

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Selic pode subir em 2023? Banco Central avisa que poderá agir em caso de desancoragem fiscal

Selic pode subir em 2023? Banco Central avisa que poderá agir em caso de desancoragem fiscal
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (Foto: Alan Santos/PR)

Na última semana, o mercado chegou a precificar uma taxa Selic superior a 14% ao longo de 2023 por conta de uma “licença para gastar” e risco de desancoragem fiscal por meio da chamada PEC da Transição. Mas será que esse cenário é factível?

Para boa parte dos economistas, grupo no qual me incluo, uma elevação da taxa básica de juros no ano que vem dos atuais 13,75% ainda não é o cenário base, mas também não pode ser descartada. O Boletim Focus desta segunda-feira (21), por exemplo, trouxe um movimento de queda da Selic, mas em menor proporção do que se esperava há algumas semanas. E o motivo disso tem nome e sobrenome: risco fiscal.

Vale lembrar que o Banco Central desde que encerrou o ciclo de alta de juros no Brasil já vinha levantando o debate sobre maiores gastos públicos por conta das eleições e sinalizando que, dependendo do cenário fiscal, poderia voltar a subir juros. Isso foi comunicado claramente pelas atas e documentos da autoridade monetária. E o cenário de risco do BC parece estar se concretizando.

Antes de mais nada, é preciso que algumas questões ainda sejam respondidas para haver mais clareza: como a PEC da Transição passará no Congresso? Quem será o ministro da Fazenda do governo Lula? Essas duas respostas, ainda em aberto, devem trazer mais luz sobre a condução da política econômica e, consequentemente, mais clareza para o investidor conseguir tomar melhores decisões de alocação. Fato é que nesse momento temos um risco maior de haver uma desancoragem fiscal, o que eleva a possibilidade de uma retomada do ciclo de alta de juros no País.

O mercado considerou o texto da PEC da Transição extremamente negativo por dois pontos: quase R$ 200 bilhões fora do teto de gastos e tempo indeterminado para esse valor ser utilizado pelo governo, driblando as regras fiscais vigentes. Isso por si só já representa uma desancoragem fiscal e, caso o texto da PEC não seja alterado – o que não deve acontecer – provavelmente “bateria” na economia de maneira desastrosa, com déficit primário, alta do dólar e pressão na inflação, cenário que já vimos em um passado recente.

Fato é que o Banco Central, num cenário apontado acima, tentará agir para fazer com que a inflação fique ancorada e vá para a meta. Essa é a função da autoridade monetária, e a grande vantagem de termos atualmente um BC independente. E isso foi dito com todas as letras pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto, em um evento realizado pela Bloomberg na semana passada.

O discurso adotado por Campos Neto até aqui me parece bastante adequado: caso estivéssemos num cenário sem questões fiscais envolvidas, o discurso poderia ser visto até mesmo como otimista, já que a inflação está começando a ter uma melhora qualitativa nas palavras do próprio Campos Neto. Se fosse só isso, era certo o corte de juros daqui a alguns meses. No entanto, quando questionado sobre política fiscal, ele mandou uma mensagem clara: se houver desancoragem na inflação por conta do fiscal, o Banco Central irá agir na política monetária. Então se o fiscal puxar para um lado, o BC vai puxar para o outro, ou seja, vai subir os juros. O tempo, e as respostas às questões do mercado nesta transição de governo, irão responder qual força falará mais alto.

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