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Helena Veronese

Economista-chefe da B.Side Investimentos.

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Opinião: Banco Central não altera cenário-base mas busca mais flexibilidade na condução da política monetária

Opinião: Banco Central não altera cenário-base mas busca mais flexibilidade na condução da política monetária

A semana encerrada hoje contou com duas publicações importantes para o entendimento da política monetária, especialmente depois da mudança de guidance do Copom na sua última decisão: a ata relativa à última reunião do comitê e o relatório Trimestral de Inflação (RTI).

De maneira geral, os dois documentos mostraram o que o comunicado pós-decisão já havia sinalizado: a despeito de adotar uma postura um pouco mais cautelosa, o Banco Central não alterou seu cenário-base. Isso pode abrir espaço para algumas interpretações, mas, por ora, nossa visão é de que o que o Copom buscava nesta mudança de guidance, sinalizando apenas mais um corte de 50bps, e não dois, é um pouco mais de flexibilidade na condução da política monetária. Isso não significa, em absoluto, que temos a partir de agora uma autoridade monetária muito mais hawkish. Ao contrário, o que se tem, segundo o BC, é um cenário mais incerto, o que justifica a mudança de postura. Como bem lembrou Roberto Campos Neto na entrevista coletiva que acompanhou a divulgação do RTI, o guidance só faz sentido quando o grau de convicção no cenário futuro é relativamente grande. Caso contrário, ou seja, em momentos de maior incerteza, o custo do guidance fica cada vez maior.

Falando do cenário propriamente dito, o Relatório de Inflação mostrou que, do lado do IPCA, nada mudou: o Banco Central segue projetando inflação de 3,5%, 3,2% e 3,2% para 2024, 2025 e 2026, respectivamente. Embora mostrem alguma desancoragem, já que a meta do IPCA para os 3 anos é de 3%, estes números são os mesmos apresentados no final de 2023. Por outro lado, o BC segue sinalizando que tanto o índice cheio quanto os núcleos seguem rodando acima da meta, e a principal preocupação segue sendo a inflação de serviços – que leva a uma longa discussão sobre a velocidade da desinflação, que encontra uma resiliência maior nesta segunda etapa (o que já vinha sendo sinalizado pelo Copom, bem como pelo Fed, há algum tempo).

Do ponto de vista da atividade, o RTI revisou para cima sua projeção do PIB de 2024 (de 1,7% para 1,9%), o que, segundo o Diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, se justifica prioritariamente pela resiliência no consumo das famílias, volta do crescimento dos investimentos e o dinamismo maior que o esperado no começo do ano. O crédito, que começa a responder ao afrouxamento das condições financeiras, também foi revisado para cima – e, de fato, já vemos uma queda na inadimplência.

Com tudo isso, como fica a condução da política monetária? A ata relativa à última decisão do Copom, divulgada no início desta semana, mantém, como dito, a mudança no guidance, que nada mais é que a sinalização futura dado pelo BC: para a reunião de junho a autoridade monetária ainda antevê uma redução de 50bps, mas daí para frente, teremos um BC data dependent. Outro ponto importante está no parágrafo 23 da ata, em que o comitê diz que “alguns membros argumentaram ainda que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado”. Isso pode, sim, justificar uma revisão no fim de ciclo da Focus, hoje em 9%, para algo mais próximo do que está precificado na curva (9,6%). Apesar disso, entendemos que a manutenção do cenário base pela autoridade monetária mostra apenas um BC em busca de mais flexibilidade e menos comprometimento, e não uma mudança de postura ou de leitura propriamente dita. Com isso, mantemos nossa visão de Selic em 9,25% no final de 2024.

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