B.Side Insights

Helena Veronese

Economista-chefe da B.Side Investimentos.

Ponto de vista

Alimentos e energia voltam a puxar inflação, e IPCA sobe 0,56% em outubro

Alimentos e energia voltam a puxar inflação, e IPCA sobe 0,56% em outubro

O IPCA subiu 0,56% em outubro, frente 0,54% esperados e 0,44% registrados em setembro. O acumulado do ano passou a 3,88%, e, em 12 meses, 4,76% – superando o teto da meta (4,5%). Dos nove grupos que compõem, o IPCA, oito tiveram altas em seus preços, mas foram dois os de maior impacto na inflação do mês:

i. Alimentos: o grupo de maior peso no IPCA subiu de 0,50% em setembro a 1,06% em outubro, contribuindo com 23 pontos da inflação total. A alta foi difundida, mas com destaque para preço de carnes, reagindo ao impacto de condições climáticas mais severas na qualidade do pasto.

ii. Habitação: A adoção da bandeira tarifária vermelha 2 fez com que a inflação do grupo subisse 1,49%, contribuindo com iguais 23 pontos da inflação. O preço de energia elétrica residencial foi responsável, sozinho, por 20 pontos da inflação no mês.

Contribuiu com a inflação do mês, ainda, porém com menor peso, o grupo Saúde e Cuidados Pessoais, ainda sob o impacto de reajuste nos planos de saúde.

Sobre as demais medidas, que são especialmente observadas pelo Banco Central, o que se observou foi uma pressão altista generalizada:

  • Média dos Núcleos: passou de 0,21% em setembro a 0,44% em outubro.
  • Serviços: passaram de 0,15% em setembro a 0,35% em outubro
  • Serviços subjacentes: passaram de 0,01% em setembro a 0,76% em outubro.
  • Índice de difusão: passou de 56,5% em setembro a 61,5% em outubro.

O que achamos

Assim como aconteceu com o IPCA-15 do mês, não seria exagero dizer que a inflação de outubro foi impulsionada basicamente por condições climáticas mais severas. Juntos, Habitação e Alimentos, grupos que reagiram prioritariamente aos impactos do calor e falta de chuvas, responderam por 46 pontos do IPCA do mês.

Neste sentido, ainda, é de se esperar uma desaceleração da inflação a partir de novembro, quando a bandeira tarifária atual deixará de valer, dando espaço para a bandeira amarela. Há uma possibilidade, inclusive, de uma deflação no próximo IPCA cheio por conta disso.

Mas, questões climáticas à parte, alguns pontos da divulgação de hoje merecem atenção. É o caso da média dos núcleos e dos preços de serviços e serviços subjacentes, que voltaram a subir, repetindo o comportamento do IPCA-15, depois de alguns meses de arrefecimento. Lembrando que o BC menciona com frequência a preocupação com a inflação de serviços, não há dúvidas de que a divulgação de hoje acende uma luz amarela na autoridade monetária. Adicionalmente, o fato de a inflação acumulada em 12 meses ter ultrapassado o teto da meta pela primeira vez também deve ter especial atenção do BC.

Sobre impactos para política monetária, a verdade é que a inflação corrente não tem tido muito peso neste sentido. O que o Copom tem olhado são basicamente duas variáveis, e que se conversam entre si: expectativas de inflação e política fiscal. A preocupação com o aumento dos gastos públicos e consequente trajetória da dívida tem sido a principal causa da desancoragem das expectativas. Com isso, o movimento da curva de juros e a própria pesquisa Focus têm reagido mais ao aguardo pelo anúncio de um pacote de corte de gastos do que aos números de inflação corrente propriamente ditos. Assim, entendemos que a visão de política monetária deverá ser ajustada nos próximos dias pelo prometido e tão esperado anúncio do pacote de corte de gastos do governo.

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