
A manhã desta sexta-feira contou a com a divulgação dos dois indicadores mais importantes da semana: o IPCA de dezembro e do fechamento de 2024, e o payroll, principal relatório sobre o mercado de trabalho norte-americano, também relativo ao mês de dezembro.
Começando pelo IPCA: embora a inflação de 0,52% em dezembro tenha ficado praticamente em linha com as expectativas, o ano de 2024 encerrou com inflação acumulada de 4,83% – acima, portanto, do teto da meta (4,5%). Esta é a oitava vez desde que o regime de metas de inflação foi implementado (1999) que o BC descumpre a meta estabelecida.
As principais pressões de alta vieram dos grupos: (i) Alimentação e Bebidas, que ainda reagem à alta nos preços da carne e com isso têm o 4º mês consecutivo em aceleração; (ii) Transportes, por conta do reajuste de passagens aéreas e transportes por aplicativo; (iii) Saúde, uma resposta ao reajuste nos planos de saúde. Por outro lado, o grupo Habitação voltou a ser a principal pressão de baixa, ainda por conta da adoção da bandeira tarifária verde.
No que diz respeito aos núcleos, a influência do câmbio na inflação começou a ficar mais clara neste mês com a alta dos preços de bens industriais, que passou de 0,18% em novembro para 0,65% em dezembro. Além disso, houve aceleração nos serviços subjacentes, sinalizando que a inflação de demanda segue pressionada e levando a média dos núcleos a uma nova alta, de 0,58% (vindo de 0,39% em novembro).
Ou seja, embora a inflação corrente de dezembro tenha ficado em linha com o esperado, a composição apresentada ainda preocupa, tanto por mostrar uma inflação de demanda ainda latente, quanto por mostrar que a alta do dólar de fato começa a impactar o IPCA. Adicionalmente, claro, o fato de o número do ano ter ficado acima do teto da meta, embora já esperado, traz desconforto. Por fim, mas não menos importante, cabe lembrar que a inflação de curto prazo tende a seguir pressionada, seja por alimentos/carne, seja por fatores sazonais de início de ano, como reajustes em Educação, seja por possíveis reajustes dos combustíveis – já que com a atual alta do dólar, a defasagem de gasolina em relação aos preços internacionais se aproxima de 20%.
No que diz respeito ao Payroll, o relatório apontou para uma criação de 256 mil postos de trabalho em dezembro nos EUA, quando se esperava que 165 mil vagas fossem criadas. O número representa uma forte aceleração em relação a novembro, quando 212 mil postos foram abertos. Com isso a taxa de desemprego norte-americana voltou a cair, passando de 4,0% a 3,9%. Adicionalmente, o salário médio/hora voltou a subir tanto no mês (+0,3%) quanto no ano (+3,9%), mantendo, assim, o ritmo de crescimento dos últimos meses. Estes números, em um cenário que já contempla medidas inflacionárias por parte do novo governo de Donald Trump e, consequentemente, juros mais altos, fez com que os rendimentos das Treasuries e o dólar voltassem a subir – corroborando com a visão de um Fed mais conservador.
Em relação aos preços propriamente ditos, há pouco a Treasury de 10 anos se aproximava de 4,75%, o dólar era cotado a R$ 6,10 e o DI jan 26 voltava a superar os 15%.
Estratégia: os números de hoje reforçam nossa visão de maior cautela. Em um cenário de inflação corrente pressionada, perspectiva de novos números elevados, desancoragem das expectativas, e, consequentemente, Selic mais alta, seguimos defendendo que a classe RF segue sendo a melhor opção para o investidor – em especial nos prazos mais curtos (até 5 anos), evitando assim a volatilidade do mercado. Lá fora, entendemos que com o cenário mais incerto por conta da mudança do governo, junto às máximas do mercado observadas ao fim de 2024, o momento seja de “esperar para ver” como o mercado vai reagir e como as principais economias do mundo vão responder à nova política econômica norte-americana.
Deixe um comentário