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Armadilha dos juros altos foi desmontada e o Brasil deixou de ser País do rentismo e do inferno para o empresário, diz José Rocha, gestor da Dahlia Capital

Armadilha dos juros altos foi desmontada e o Brasil deixou de ser País do rentismo e do inferno para o empresário, diz José Rocha, gestor da Dahlia Capital
José Rocha, sócio-fundador e gestor da Dahlia Capital

O principal produto de exportação dos últimos 30 anos no Brasil não foi nenhuma commodity como soja ou minério de ferro, mas sim juro real, que nada mais é do que o valor da taxa de juros descontada a inflação. Tal afirmação foi dada por José Rocha, sócio-fundador e gestor da Dahlia Capital, em entrevista ao B.Side Insights.

Desde 2016, o Banco Central (BC) diminuiu a taxa básica de juros de 14,25% para o atual patamar de 2% ao ano, em sua mínima histórica, fato que afastou o capital especulativo que entrava única e exclusivamente no País para comprar títulos de dívida pública. “A partir do momento que a armadilha dos juros altos é desmontada, o Brasil começa a deixar de ser o país do rentismo e do inferno para o empresário”, afirma Rocha.

A queda da taxa Selic também foi um dos principais motivos para a recente alta do dólar, que saiu de R$ 4 chegando a ultrapassar o patamar de R$ 5,80. A apreciação da moeda americana ante o real, na visão de Rocha, não é algo negativo para o Brasil, principalmente para os empresários que conviviam com juros altíssimos, dificuldade de obtenção de crédito e uma moeda valorizada, fatores que criavam inúmeras desvantagens competitivas em relação a outros países.

Para a Dahlia, o dólar deve continuar em tendência de alta, principalmente apostando na força dos Estados Unidos. Olhando para trás, em eventos recentes, o dólar subiu após a eleição de Jair Bolsonaro e aprovação da reforma da Previdência, ao contrário do que muitos esperavam. Depois da notícia da aprovação de vacinas, a moeda americana também andou de lado ante o real, provando a força das taxas de juros no piso. “Qualquer país do mundo que experimenta essa mudança de política econômica gera uma alta da Bolsa e uma depreciação da moeda”, explica o gestor.

Mudança no perfil de alocação do brasileiro

Os juros na casa dos dois dígitos ao ano também foram os responsáveis por construir o perfil do brasileiro como muito mais um poupador do que um investidor. Antes, era muito mais fácil investir em qualquer produto ligado ao CDI e ver o dinheiro render cerca de 1% ao mês. Essa, inclusive, é uma das razões para a poupança brasileira ser tão concentrada em renda fixa até hoje.

Mas, como a taxa de juros caiu em uma velocidade acelerada, uma parcela relevante da população se viu obrigada a tomar mais riscos para conseguir retornos melhores. 

Com R$ 7 trilhões parados no CDI, o gestor José Rocha acredita que o brasileiro vai precisar de ajuda pra fazer essa rotação da renda fixa para a renda variável. “Vai ter um mar de oportunidades”, diz.

Forças deflacionárias no cenário macro global

Se a inflação deve surpreender para baixo no Brasil, o cenário macro global também deve seguir na mesma toada, com o mundo diante de três forças deflacionárias, segundo José Rocha.

Para ele, a primeira força é a dívida alta mundial, com empresas e países tendendo a evitar tomar novas dívidas, gerando menor crescimento. A segunda é a demografia, com inúmeras sociedades envelhecendo, o que gera menos consumo e, consequentemente, um PIB menor, seguido por menor inflação. Por último, a tecnologia, com uma intensa competição entre companhias, também faz com que os preços caiam.

“Quando você tem forças deflacionárias tão fortes, é preciso de estímulos inflacionários igualmente fortes para ter um balanço no mundo”, justifica Rocha.

Mesmo com estímulos monetários robustos e taxa de juros baixíssima, inclusive negativa, nos últimos 12 anos a inflação dos países desenvolvidos ficou muito abaixo da meta. “Imprimiram dinheiro e a inflação segue abaixo da meta”, diz.

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