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Ponto de vista

Quem tem recursos tem a obrigação de saber ou ser bem assessorado por quem entende dos riscos, diz diretor do FGC

Quem tem recursos tem a obrigação de saber ou ser bem assessorado por quem entende dos riscos, diz diretor do FGC
(Daniel Lima, diretor-executivo do Fundo Garantidor de Créditos - Foto: Divulgação/FGC)

Apesar de garantir um limite de cobertura de R$ 250 mil por CPF em cada instituição financeira e um valor adicional de R$ 1 milhão por pessoa a cada quatro anos para conta corrente, conta poupança e alguns ativos específicos de renda fixa, entre outros produtos, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) não funciona como um mecanismo de seguro tradicional e tem o objetivo de proteger aqueles que não têm a capacidade de avaliar riscos. “Quem tem recursos tem a obrigação de entender o que está fazendo ou ser bem assessorado por quem entende dos riscos”, afirma Daniel Lima, diretor-executivo do FGC, em entrevista ao B.Side Insights.

Segundo ele, ter um seguro para tudo causaria um efeito colateral muito negativo para toda a indústria, porque nesse caso ninguém avaliaria riscos e assim o mercado se tornaria disfuncional, dando como exemplo a crise de 2008 nos Estados Unidos. As disfuncionalidades do mercado causariam consequências diretas na economia real, afetando emprego, renda e o bem estar da sociedade. “É preciso avaliar riscos para manter o mercado saudável, porque é assim que minimizamos impactos adversos para a economia real.”

Saúde financeira das instituições financeiras durante a pandemia

Apesar da pandemia de covid-19 assolar a economia brasileira de uma maneira geral, a saúde financeira das instituições conseguiu ultrapassar a crise sem nenhum grande susto. Daniel Lima atribuiu o evento por conta de uma boa condição de liquidez e capitalização das empresas. “O sistema é muito mais robusto na pandemia do que ele era entrando na crise passada”, diz.

Além disso, o executivo cita uma atuação bastante ativa do governo e do Banco Central, irrigando o mercado com liquidez como a liberação de compulsórios, por exemplo, e a prorrogação de empréstimos por parte dos bancos que ajudou a reduziu a inadimplência.

Passado o período de maior turbulência, parte das medidas começam a ser revertidas e Lima compara o momento como um paciente que está se recuperando de uma cirurgia e conta com uma forte medicação para a dor. “Há um processo de se curar e a economia real vem passando por isso. Temos que ver as necessidades do paciente, mas também os efeitos colaterais”, analisa o diretor do FGC.

Processo de pagamento do FGC cada vez mais rápido

Ao olhar para trás, o FGC teve que ser acionado apenas três vezes desde 2018 (Dacasa Financeira, Domus Hipotecária e Banco Neon) e nenhuma das instituições em liquidação extrajudicial foi uma grande surpresa. Pelo contrário. A falência de algumas é vista com naturalidade diante do aumento da competição entre os players do mercado. “É natural que tenha uma grande quantidade que sobreviva e uma parte que o modelo de negócio acaba não dando certo por uma série de fatores”, afirma Lima.

E um dos papéis do FGC é garantir que o pagamento de quem foi prejudicado seja feito com a maior celeridade possível. Para isso, o investimento em tecnologia e aprimoramento da governança de dados pelas instituições financeiras do sistema é apontado como um fator positivo. Além disso, no final de 2021, essas empresas deverão compilar toda sua base de dados mensalmente.

Outra iniciativa para diminuir a desburocratização foi a criação de um aplicativo do Fundo Garantidor de Créditos, idealizado desde 2018, com o intuito de reduzir o esforço e o tempo de pagamento. O primeiro teste foi com a Dacasa, no ano passado, demonstrando bons resultados. “Com a distribuição via corretoras, o número de clientes cresceu exponencialmente. Então fica inviável continuar fazendo esse processo de forma física. Hoje, qualquer banco digital tem milhões de clientes”, justifica o executivo.

Atualmente, o FGC, que é uma entidade privada e sem fins lucrativos, possui um patrimônio de cerca de R$ 85 bilhões, com a liquidez chegando a quase R$ 65 bilhões.

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