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Ponto de vista

“Com a renda fixa oferecendo dois dígitos, custo de oportunidade para a renda variável fica maior”, afirma analista do BTG Pactual

“Com a renda fixa oferecendo dois dígitos, custo de oportunidade para a renda variável fica maior”, afirma analista do BTG Pactual

Em um cenário no qual o Brasil passa por um ciclo de alta de juros para tentar conter a inflação, o mercado volta a oferecer com mais frequência produtos financeiros com rentabilidade de dois dígitos na renda fixa, o que naturalmente eleva o custo de oportunidade de ativos de maior risco, como os de renda variável. O custo de oportunidade nada mais é do que o valor que um investidor renuncia ao tomar uma decisão.

“Os demais mercados, além da renda fixa, ficam com um custo de oportunidade maior, já que precisam remunerar melhor o investidor ou gerar uma perspectiva de ganho muito maior e, consequentemente, mais arriscada”, afirma Tiago Daer, analista de renda fixa do BTG Pactual, em contato com o B.Side Insights.

Segundo Daer, o desejo do brasileiro conquistar uma rentabilidade nominal de 1% ao mês voltou a se aproximar. Essa nova realidade para os títulos de renda fixa aconteceu, principalmente, da segunda semana de agosto em diante quando houve um estresse muito forte e rápido na curva de juros, refletindo notícias sobre a situação fiscal do País, com ruídos envolvendo precatórios, o novo Bolsa Família e o não cumprimento do teto de gastos.

Assim, na semana passada, títulos públicos como as NTN-Bs (Tesouro IPCA+) de longuíssimo prazo (2050/2055) chegaram a oferecer prêmios superiores a IPCA + 5% ao ano, enquanto NTN-Fs (Tesouro Prefixado) mais longas passaram de 10% ao ano e o papel com vencimento em 2031 apresentou uma rentabilidade de 11% ao ano. Isso também refletiu em ativos prefixados, com Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) batendo 12% ao ano.

“Já percebemos uma mudança de fluxo quando a Bolsa de Valores começou a devolver prêmio e a renda fixa começou a oferecer um patamar de rentabilidade muito mais elevado”, diz o analista do BTG.

Comprar ou não comprar?

Apesar do cenário ainda demandar certa cautela, investidores podem aproveitar o momento de instabilidade para comprar títulos de renda fixa com taxas que não eram oferecidas há algum tempo.

“São patamares que não víamos há 2 ou 3 anos, mas isso pode subir ainda mais”, aposta Daer. “Estamos com um yield (retorno) de taxa muito bom e devem aparecer em momentos futuros mais oportunidades de alocação no mercado de renda fixa, muito por conta desse estresse que ainda podemos ter com a curva de juros.”

O que pode acontecer daqui para frente?

O mercado ainda aguarda as cenas dos próximos capítulos. Mesmo com uma leve percepção de melhora nesta semana, o noticiário político ainda é o que move o mercado de juros. Há ainda a preocupação de que o governo ceda a anseios populistas de aumentar gastos que podem furar o teto. Somado a isso, a aproximação do ano eleitoral, que pode trazer ainda mais volatilidade, também traz pressão adicional.

Em contrapartida, o movimento recente na curva de juros pode ter sido exagerado, visto que alguns fundamentos do cenário fiscal não estão tão ruins como o mercado está precificando como, por exemplo, a relação dívida/PIB e receita primária. Porém é certo que o medo do que está por vir continua imperando entre os agentes.

“A parte externa pode até movimentar alguma coisa, mas o que tem feito muito mais preço para os juros são as notícias da economia doméstica mesmo”, afirma Daer.

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