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Newton Tech Fund

O Newton Tech Fund é um fundo de ações que traz a experiência do Venture Capital para a Bolsa de Valores, na avaliação de empresas de base tecnológica listadas em Nasdaq, NYSE e B3. O Fundo é gerido pela Catarina Capital e tem foco em companhias líderes e expoentes em segmentos como Semicondutores, Segurança Cibernética, Computação em Nuvem, SaaS, E-commerce/Marketplaces, Fintechs, Redes Sociais, Games e Streaming. Mais informações em newtonfund.com.br

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Microsoft: a reinvenção de um gigante na criação da maior empresa verdadeiramente SaaS do mercado

Microsoft: a reinvenção de um gigante na criação da maior empresa verdadeiramente SaaS do mercado

Mais antiga (46 anos) e conhecida empresas de SaaS (software as a service, ou na tradução livre, software como serviço) do mundo, a Microsoft sempre foi identificada com seu sistema operacional Windows e software de produtividade, como o Office. A interface gráfica criada pela empresa deu tão certo que ela se tornou quase onipresente nas empresas globais. O Windows chegou a estar presente em mais de 90% dos computadores ao redor mundo, a tal ponto que a empresa sofreu entre o final da década de 1990 e início do ano 2000, dois processos (um nos EUA e outro na UE) destinados a quebrar o monopólio da empresa. Nenhum dos casos resultou em eventos significativos para a companhia, mas dão a dimensão da importância que o Windows passou a ter para o mundo.

Inicialmente o modelo da empresa consistia na venda de CD-ROM contendo os diferentes produtos, habilitados através de código. Na época, o principal concorrente da empresa era a pirataria: estima-se que entre 30% e 60% (depende da fonte) dos computadores do mundo rodavam algum tipo de Windows pirata até o surgimento do Windows 7.

O modelo de negócios da empresa, um sucesso absoluto nos anos 1990 e 2000, começou a ser atacado pelos concorrentes no começo da década passada, com empresas como Google e a Apple oferecendo alternativas mais baratas ou mais integradas. O caso da Apple é um exemplo de duas forças distintas atuando sobre o mesmo mercado: enquanto o modelo da Microsoft buscava licenciar apenas o software, integrando a interface com diferentes fabricantes de hardware, a Apple buscou um approach mais holístico ao processo, controlando todos os aspectos dos seus produtos, incluindo o hardware e o design (além do iOS, claro). Com o tempo ficou claro que o modelo totalmente integrado possuía suas vantagens, como maior controle sobre usuários e processos, o que forçou a Microsoft a buscar alternativas para endereçar a concorrência. A solução encontrada pela companhia foi atuar em duas frentes: a primeira foi disponibilizar o seu software para ser usado em sistemas operacionais diversos (Office para iOS, por exemplo), enquanto que a segunda foi uma tentativa da empresa de entrar também no mercado de hardware, algo que não foi tão bem sucedido (como vemos melhor no final).

Além do embate com novas alternativas aos seus produtos, a empresa também teve de enfrentar um mercado em transformação, no qual as empresas passaram a se mostrar muito mais sensíveis ao custo de software do que eram antigamente. Foi justamente nessa nova realidade que a Microsoft conseguiu pivotar o seu modelo de negócio, abrindo caminho para se transformar na empresa que vemos hoje.

A empresa foi capaz de transformar um modelo puramente focado na venda de softwares de entrega física (CD-ROM) para um modelo de contratação de serviço, no qual a venda de produtos físicos de alto valor passou a representar uma pequena parte do seu resultado, sendo gradualmente substituído por licenças com modelo de receita recorrente e 100% digital. Isso representou um salto na competitividade da empresa, tanto sob o ponto de vista de resultado (que ficou mais previsível) quanto sob o aspecto de fidelização dos clientes, dado que o ticket médio mais baixo (ainda que pago recorrentemente) ajuda a empresa a competir em um mercado repleto de soluções (ainda que parcial) mais baratas ou mesmo de graça. A adoção do Office 365 é o melhor exemplo desse movimento; em 2014 as vendas no modelo de nuvem já superaram as vendas realizadas para computadores individuais.

A empresa hoje atua em três áreas distintas:

1) A primeira é focada no mercado corporativo, fornecendo tanto softwares (Office, Dynamics e CRMs) quanto suporte às diferentes áreas das empresas (TI e Linkedin, por exemplo).

2) A área de “computadores pessoais” é responsável por soluções para o usuário final, como Windows, Xbox e o Bing. Apesar de parecer uma área menos relevante para a companhia, ela ainda corresponde a aproximadamente 33% de toda a receita da Microsoft. Nós esperamos que, conforme a área de Computação em Nuvem (cloud) aumente a relevância nos resultados da empresa, essa divisão comece a ser menos representativa, dado que o crescimento dela nos últimos anos ficou abaixo de 10% anualizado.

3) Por fim vem o segmento de Computação em Nuvem (cloud), a área que mais cresce na empresa, e da qual mais é esperado em termos de desenvolvimento. Essa área é composta pela divisão de servidores da empresa, com destaque especial para a Azure, o grande drive de crescimento da companhia. Quando a Microsoft decidiu entrar na área de cloud computing, esse mercado já era dominado por outras grandes empresas, como a Amazon (com o AWS), Google (GCP) e a IBM (IBM Cloud). Além dessas empresas, recentemente outros dois grandes players começaram a acumular mercado rapidamente: as chinesas Alibaba e Tencent (que juntas já possuem mais de 10% do mercado global).

A empresa, assim como as demais big techs, foi extremamente beneficiada com o lockdown de 2020, capitalizando na demanda por uma maior digitalização do mundo, o que impulsionou especialmente a área de serviços cooperativos, como o Office 365 e a Azure.

A diversidade de soluções apresentadas pela Microsoft tornou a empresa um nome quase que onipresente em todo o ecossistema de tecnologia, fornecendo soluções para diferentes setores e públicos, como bem demonstra o gráfico abaixo, apresentado pela Goldman Sachs:

O modelo de aquisição também pode ser considerado diferente do resto do mercado: enquanto as empresas de tecnologia costuma realizar aquisições pequenas, focadas em melhorar/aperfeiçoar a tecnologia já existente, a Microsoft opta por comprar (também) empresas em setores para os quais a companhia está tentando entrar, como forma de acelerar o crescimento. Só em cinco empresas (LinkedIn, Nuance Comm, Zenimax, GitHub) a empresa desembolsou mais de US$ 70 bilhões, como forma de ingressar em posição de liderança em setores ainda inexplorados. A título de curiosidade, com esse valor seria possível comprar qualquer empresa brasileira, com exceção de Vale e Petrobras.

O valor parece alto, mas não corresponde nem a um ano de fluxo de caixa operacional da companhia, que encerrou o balanço de junho com impressionantes US$ 76 bilhões em geração de caixa operacional. Além disso, o volume de aquisições é superior a qualquer outra empresa do mundo, com mais de 250 operações em sua história (incluindo a compra de uma participação minoritária na Apple, em 1997, que foi completamente vendida na década seguinte). Desse volume, 54 foram apenas nos últimos cinco anos.

A empresa pode ser considerada um apex predador do setor de tecnologia: não existe área ou tecnologia que ela não consiga incorporar na sua plataforma de produtos e, quando decide avançar em um terreno, atua de forma agressiva para capturar market share, ainda que por um preço elevado; uma vez alcançado o foothold em uma determinada área, o foco passa a ser a integração com outros serviços já fornecidos pela companhia, criando um ecossistema completo, quase um one-stop-shop para qualquer usuário.

Isso não quer dizer que a empresa não teve ao longo de sua história falhas monumentais na sua estratégia: a empresa já enfrentou fracassos monumentais que vão desde versões extremamente criticadas do sistema operacional Windows (por exemplo, o Millennium e Vista) até disputas com outros players que acabaram mal para ela. Dois exemplos são o Zune (para quem é muito jovem, a Microsoft já tentou entrar no mercado de player de música) e o Windows Phone.

O player, destinado a concorrer (e exterminar) o Ipod foi lançado em 2006 pela empresa, porém nunca ultrapassou a marca de 10% do Mercado, e foi descontinuado em 2011, gerando um prejuízo para a empresa de mais de US$ 300 milhões apenas no último trimestre. Isso não significa que a empresa não soube aproveitar bem a experiência, entretanto: a tecnologia do Zune acabou sendo utilizada em outros produtos, como o Windows 8 (quase 10 anos depois), o Windows Phone (outro experimento que não deu certo) e o Xbox. Mesmo perdendo a disputa pelo mercado de players, portanto, a Microsoft soube reaproveitar os aspectos positivos da tecnologia. Alguns anos depois, animada com o crescimento do mercado de celulares, a empresa tentou expandir a sua atuação para esse setor, buscando “unificar” o sistema operacional dos aparelhos com o Windows, criando um ambiente semelhante àquele que a Apple tem com o IOS. Para resolver o problema de integração software-hardware, a empresa decidiu que o melhor seria adquirir uma fabricante já experiente na área, como forma de acelerar o projeto, em detrimento de trabalhar com a indústria. A aquisição da Nokia, por US$ 8 bilhões foi vista na época como o veículo através do qual a Microsoft tomaria a liderança de um novo setor, crescendo a sua já relevante base de produtos, porém ao adquirir uma empresa, a Microsoft acabou por alienar os demais fabricantes, como Samsung e HCT. Sem o market share que esses fabricantes poderiam trazer à mesa, o interesse dos desenvolvedores por produzir conteúdo para o Windows phone ficou bem abaixo do esperado. Isso somado ao alto preço do produto fez com que a empresa nunca ganhasse o market share esperado, e entregasse o projeto em 2020. Assim como aconteceu com o Zune, nem tudo foi perdido: existe um novo projeto, para revitalizar a parte de software operacional para smartphones, dessa vez já mais experiente e alinhada com os demais produtores de hardware.

A velocidade com que a Microsoft é capaz de capturar novos mercados pode ser vista no setor de cloud: segundo relatório do IDC, a empresa possuía apenas 5% do mercado em 2015. Passados menos de seis anos (1º trimestre de 2021), a Microsoft possui um share de 20%, ultrapassando empresas tradicionais, como o própria Google. A rapidez com que a empresa chegou a vice-liderança (a líder ainda é a AWS, com 32% de market share) de um mercado de quase US$ 150 bilhões/ano é uma das principais razões pela qual os analistas que cobrem a empresa acreditam que a Receita apenas dessa área pode ultrapassar os US$ 100 bilhões (com uma margem bruta de quase 70%) nos próximos três anos.

Nós da Catarina também estamos animados com o futuro da empresa, que é a principal posição do Fundo: a nossa leitura é que a empresa está entre as mais bem posicionadas para aproveitar esse ciclo de adoção tecnológica que estamos vivendo e acreditamos que a empresa é um mix perfeito de crescimento (com a Azure crescendo mais de 40% ano após ano) com geração de caixa (Ebitda perto de 50%). Os números operacionais são superlativos: a companhia vale US$ 2,1 trilhões de dólares, 10x mais que todas as empresas do Ibovespa somadas, fatura US$ 170 bilhões por ano, e lucra US$ 60 bilhões; são 181 mil funcionários em 96 países. Com o último resultado apresentado, a empresa agora possui 15 trimestres seguidos de crescimento de Receita acima de 10%, sendo o décimo trimestre consecutivo que ela supera as expectativas do mercado. Existe, claro, riscos a serem monitorados, como a entrada de players chineses (Alibaba e Tencent, como dito acima) para disputar o mercado de cloud, além do risco de execução de uma nova versão do Windows (Windows 11) e das aquisições recentes da empresa. Em termos de valuation, os múltiplos da empresa não são baratos, sendo negociada a 12,6x vendas, ou 25,4x Ebitda, porém abaixo de outros líderes do setor, como Salesforce e Adobe.

Sobre o autoro Newton Tech Fund é um fundo de ações que traz a experiência do Venture Capital para a Bolsa de Valores, na avaliação de empresas de base tecnológica listadas em Nasdaq, NYSE e B3. O Fundo é gerido pela Catarina Capital e tem foco em companhias líderes e expoentes em segmentos como Semicondutores, Segurança Cibernética, Computação em Nuvem, SaaS, E-commerce/Marketplaces, Fintechs, Redes Sociais, Games e Streaming. Mais informações em newtonfund.com.br.

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