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“Com Fed mais agressivo, risco de recessão nos EUA aumenta”, diz Vinicius Fukushiro, da Tenax Capital

“Com Fed mais agressivo, risco de recessão nos EUA aumenta”, diz Vinicius Fukushiro, da Tenax Capital
(Vinicius Fukushiro, co-responsável pela gestão do fundo macro da Tenax Capital)

Dando continuidade a um movimento visto no Brasil nos últimos anos, a expansão da indústria de assets independentes continua a todo o vapor em meio ao crescimento do apetite do investidor brasileiro por fundos de risco. Logo no pontapé inicial de 2022, a CVM e a Anbima, entidade que representa o mercado de capitais e de investimentos, registravam 27 processos de abertura em andamento.

E uma das mais novas gestoras do mercado, que iniciou sua operação em fevereiro deste ano, é a Tenax Capital, asset fundada por Alexandre Silvério, ex-CIO da AZ Quest, reunindo ex-sócios e outros profissionais experientes do mercado, caso de Vinicius Fukushiro, ex-chefe da mesa de operações do Bank of America no Brasil.

Além de contar com um time sênior do mercado, a Tenax obteve logo de largada um aporte do fundo Rising Stars, da Itaú Asset, o que a possibilita ter tamanho suficiente para gerar recursos suficientes para a empresa atravessar essa fase inicial do negócio de forma eficiente e segura.

A casa larga com três produtos de duas estratégias, sendo um fundo macro e dois de renda variável (um long only e um total return).

Confira a entrevista na íntegra de Vinicius Fukushiro, co-responsável pela gestão do fundo macro, ao B.Side Insights: 

B.Side Investimentos – A Tenax Capital nasceu em uma data muito próxima da invasão da Rússia na Ucrânia, um evento que trouxe extrema volatilidade para os mercados globais. Por outro lado, o desempenho da indústria de multimercados macro brasileiros é bastante positiva em 2022, após uma trajetória ruim no ano anterior. Como vocês se encaixam nesse cenário?

Vinicius Fukushiro – Operar macro, no final das contas, é operar os diferentes ciclos econômicos dos países e o que mais temos no mundo agora são temas nesse sentido. Interessante que desde a pandemia, inclusive lá fora, a performance dos fundos macro voltou a ser muito boa, porque os temas voltaram a aparecer. Estamos vivendo um processo inflacionário global e o mercado está tentando entender como os bancos centrais vão reagir para acomodar isso. Vemos que alguns bancos centrais saíram na frente no processo de normalização e outros ainda estão atrás da curva. A guerra acabou entrando como um acelerador dessa dinâmica inflacionária que já vinha ruim na parte da oferta. Quem estava preocupado com a inflação, ficou ainda mais.

O mercado de maneira geral já vinha apostando em juros globais mais altos desde o ano passado. O grande movimento de alta dos juros ao redor do mundo (principalmente no mercado americano) gerou um ótimo resultado para os fundos macro nesse começo de ano. O mercado também operou muito bem o mercado de commodities. Aqui no Brasil os fundos se aproveitaram de trades de inflação implícita e da valorização da moeda brasileira.

B.Side Investimentos – Mas então, aproveitando o assunto, como vocês estão enxergando a atuação do Federal Reserve (o banco central americano)?

Vinicius Fukushiro – Acreditamos que a economia americana está bastante aquecida. Do lado do emprego o Fed já atingiu seu objetivo, porém a inflação está rodando muito acima do desejável. Achávamos que ele precisaria começar logo o processo de normalização e eventualmente acelerar o ritmo do aperto. Seguimos com essa cabeça. Iniciamos as operações tomados em juros americanos no meio de uma guerra. Tomar juros num ambiente em que ninguém sabia o que iria acontecer, pelo menos no início do conflito, foi um pouco complicado. Mas acabamos nos beneficiando do movimento de alta dos juros depois que o mercado percebeu que a guerra teria mais implicações para a inflação do que para a atividade. São posições que ainda gostamos, mas temos em menor tamanho. Acreditamos também que os juros reais americanos estão ainda baixos e devem subir.

O problema hoje, falando do nosso portfólio como um todo, é que estamos céticos sobre essa reação tão benéfica que o mercado está tendo com relação à postura do Fed, que tem soado cada vez mais duro sobre a inflação. Se você olhar para as inflações implícitas nos Estados Unidos, elas continuam muito próximas aos picos recentes, mesmo com o Fed soando mais “Hawk”. O banco central americano vai ter que tornar as condições financeiras mais restritivas e isso passa por uma correção no preço dos ativos. Entendemos que esse aperto pode afetar ainda mais os preço das ações, sendo que já houve uma bela correção do lado do crédito. O mercado parece acreditar em uma aterrissagem suave da economia americana, como se o Fed conseguisse resolver todo esse problema inflacionário sem causar um grande dano à atividade. Esse cenário nos parece pouco provável. Esse rally das bolsas americanas que tivemos em Março foi bastante técnico ao nosso ver e achamos que os índices lá nos Estados Unidos vão ter dificuldades de continuar subindo dos preços atuais.

Nesse sentido, pelo menos para a bolsa americana, estamos trabalhando com posições mais defensivas. Aproveitamos sempre para comprar opções de baixa de bolsa americana, principalmente quando a volatilidade cai bastante. Aqui no Brasil há um ambiente favorável para a bolsa, mas se tivermos uma queda mais expressiva da bolsa americana isso de alguma forma pode bater aqui também.

B.Side Investimentos – E o movimento de inversão na curva de juros dos Estados Unidos (considerada um sinalizador de recessão por alguns especialistas) é outro fator de preocupação?

Vinicius Fukushiro – É outra coisa que nos deixa atentos, porque isso deveria de alguma forma refletir no preço de outros ativos e nós achamos que não está. Há mil teorias sobre a curva de juros, mas é fato que com o Fed mais agressivo, o risco de recessão lá na frente aumenta . Então, isso nos deixa ainda mais preocupados com as bolsas americanas e ativos de risco, de maneira geral. Por isso que estamos com uma visão bastante cautelosa nos preços atuais de bolsas. Bolsa Brasil um pouco menos, porque temos esse vento favorável aqui, mas não ficaremos descolados eternamente. 

B.Side Investimentos – Acompanhamos um fluxo de entrada de investimentos estrangeiros bastante relevante no primeiro trimestre no País. Esse fluxo ainda tem espaço para continuar?

Vinicius Fukushiro – O fluxo dos estrangeiros realmente aconteceu porque houve uma tempestade perfeita para o Brasil. O mercado entendeu que já estávamos mais perto do final do que do começo da alta de juros, tínhamos commodities e bancos considerados baratos e, um terceiro fator, que para mim é muito relevante, é que a moeda encontrou uma estabilização. O investidor estrangeiro até aceita perder na ação que ele compra, mas perder na moeda é complicado. E a moeda do jeito que ela vinha operando no ano passado, realmente afugentava, porque havia várias pessoas dizendo que o real iria para cima de R$ 6. Além disso tudo, tivemos um benefício do lado fiscal, já que as receitas estão vindo tão boas que o mercado decidiu passar por cima desse problema por hora. Então, entraram os temas valuation, composição do índice, moeda barata e estável com menos downside. Olhando para esses fatores, ainda há espaço para o gringo continuar alocando aqui no Brasil, principalmente porque outros mercados emergentes não estão “investíveis”, como é o caso da Rússia.

Já as commodities vão continuar em patamares elevados muito por conta de fatores estruturais, com pouco investimento no setor. Por mais que os bancos centrais tentarão segurar a demanda de alguma forma, vemos ainda espaço para as commodities pelo menos se estabilizarem em patamares altos, o que é um cenário bom para a nossa Bolsa. Acho que existe sim um espaço para o gringo continuar, mas não acho que será essa avalanche de dinheiro que veio até agora.

B.Side Investimentos – E o que vocês enxergam para o dólar, que atualmente se encontra em um patamar abaixo de R$ 4,70? Ainda há espaço para apreciação do real ou o movimento está chegando ao fim?

Vinicius Fukushiro – O vento favorável que tivemos para a Bolsa também atingiu o Real. Temos commodities ajudando nossos termos de troca e juros altos que são atrativos para operações de “carry trade”. Além disso, estamos longe da guerra. Para a América Latina o ambiente global tem sido bastante favorável para as moedas da região e isso parece que ainda tem espaço para continuar. Mas mais uma vez, quando olhamos para os EUA e vemos que o Fed terá que ser mais agressivo, será que o dólar vai se enfraquecer? É uma boa pergunta, mas ainda temos uma cabeça otimista para o real, porém cautelosa por esse fator externo.

B.Side Investimentos – E qual a opinião de vocês sobre a postura do Banco Central que já sinalizou a pretensão de encerrar o ciclo de alta de juros na próxima reunião de maio, com elevação de 1,00% para a Selic?

Vinicius Fukushiro – Nosso cenário é de mais uma alta de 100 basis points. No momento não trabalhamos com movimentos adicionais. O Banco Central até poderia subir mais, mas nos parece que ele quer ver como a economia vai digerir toda essa alta de juros, podendo ficar com a SELIC estacionada pelo resto do ano. Óbvio que tudo dependerá do comportamento da inflação.

E transferindo isso para as nossas posições de juros, consideramos que o viés aqui é para aplicar (apostar na queda dos juros). Temos posições compradas em NTN-B e posições na curva de DI apostando no “flatenning” da curva. A posição direcional no DI foi reduzida dado o rally recente, mas a idéia é aumentar essa aposta se os níveis melhorarem.

B.Side Investimentos – Por fim, as eleições de 2022 apontam, por enquanto, para um cenário entre Bolsonaro e Lula no 2º turno. Qual a visão de vocês?

Vinicius Fukushiro – O que tem de mais diferente em relação às últimas eleições é que o mercado já conhece muito bem os dois principais candidatos (Bolsonaro e Lula). Estamos descartando a terceira via, no momento atual, porque nenhum outro nome nos parece competitivo. Os temas lá fora estão muito mais preponderantes do que a eleição. Agora começam as pré-candidaturas e o mais relevante será ver quem serão as equipes econômicas no final das contas. Ainda temos poucos elementos para apostar. Mais para o final deste próximo trimestre devemos ter mais movimentações nesse sentido.

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