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“A política de covid zero na China terá como consequência um mundo ainda mais inflacionário”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos

“A política de covid zero na China terá como consequência um mundo ainda mais inflacionário”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos

A B.Side Investimentos anunciou na semana passada a contratação de Helena Veronese para o cargo de economista-chefe.

Com 15 anos de experiência no mercado de capitais, Veronese acumula passagens por empresas como Ágora Corretora, Bradesco e Tendências Consultoria. O último cargo ocupado por ela foi o de economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, onde esteve por quase cinco anos e se dedicou à análise de cenário e ao atendimento de clientes.

A chegada de Helena coincide com o momento em que a B.Side Investimentos dobrou seus ativos sob assessoria, chegando a R$ 2 bilhões.

Confira abaixo uma entrevista de apresentação com a nova economista-chefe da B.Side Investimentos:

B.Side Investimentos – Atualmente, convivemos no Brasil com uma inflação acumulada em 12 meses superior a 11%. O que esperar para os próximos meses?

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos – A inflação no Brasil se mostrou mais duradoura e disseminada que o inicialmente previsto. Alguns pontos ainda preocupam, como preço de industriais, que sofrem com gargalos produtivos, e alta nas commodities por conta tanto da demanda global quanto da guerra na Ucrânia. Com isso, o Bacen precisou promover uma alta de juros bastante intensa, e a taxa Selic deverá ficar em um patamar contracionista ainda por bastante tempo. A consequência imediata deste cenário é uma atividade enfraquecida, que em um ano que deveria ser de recuperação terá que lidar com um aperto monetário.

B.Side Investimentos – Mas sabemos que a inflação não é um assunto exclusivo do Brasil, mas está disseminada globalmente. Como ela está impactando as principais economias do mundo?

Helena Veronese – Inflação é o assunto da vez não só aqui, mas também nas principais economias. Nos EUA, a inflação é de demanda, oriunda de uma recuperação mais forte da economia como um todo, e do mercado de trabalho em particular. Na Europa, a questão energética preocupa e traz pressões adicionais, uma vez que as principais economias do continente têm uma dependência energética grande da Rússia. Com isso, os principais bancos centrais começam a agir. O Fed em particular aumentou a taxa de juros em 25 bps, mas já sinalizou que deverá acelerar o ritmo de aperto para altas de 50 bps. O impacto deverá ser sentido na economia real e no mercado de trabalho, e dependendo do tamanho do aperto, o risco de recessão é algo bastante real.

B.Side Investimentos – E como você está enxergando a atuação do Federal Reserve, o banco central americano, neste cenário?

Helena Veronese – O Fed iniciou o processo de alta de juros com uma elevação de 25 bps na reunião de março, mas já sinalizou que vai acelerar o movimento para altas de 50 bps. O mercado já precifica mais 4 altas desta magnitude, mas o risco neste momento é de os números de inflação obrigarem a autoridade monetária a promover um aperto ainda maior. Neste sentido, as próximas comunicações ganham uma relevância grande.

B.Side Investimentos – E a pergunta que não quer calar por aqui é: quando será o fim do ciclo de alta de juros no Brasil?

Helena Veronese – Ao contrário das economias desenvolvidas, os emergentes iniciaram seu aperto monetário antes. Foi o caso do Banco Central do Brasil, que agora já está no fim do ciclo de alta. As sinalizações recentes haviam sido todas no sentido de que a alta de 100 bps desta quarta-feira seria a última, mas o agravamento do conflito na Ucrânia e a nova rodada de alta nos preços das commodities frustrou as expectativas da autoridade monetária, e alguma alta adicional deve acontecer. Assim, a exemplo do que vai acontecer com o Fed, o comunicado pós-decisão merece especial atenção por aqui.

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos

B.Side Investimentos – Um outro ponto de preocupação tem sido o aumento de casos de covid-19 na China. Quais serão os impactos?

Helena Veronese – A recente onda de covid-19 na China preocupa, especialmente por colocar em lockdown algumas das maiores cidades do país. Com isso, já se observa consequências como atrasos de embarques no porto de Xangai, o maior do país, e interrupção de produção de eletrônicos em Shenzhen. A política de covid zero de Pequim deve fazer com que o lockdown permaneça por mais alguns dias ou semanas, e a consequência certamente será um mundo ainda mais inflacionário.

B.Side Investimentos – E quais outros riscos devemos manter no radar para 2022?

Helena Veronese – Além da inflação e do aperto monetário global, temos no Brasil um ano eleitoral que, como sempre, deve garantir bastante volatilidade aos preços dos ativos. O destaque neste sentido deverá ficar por conta das políticas econômicas dos principais candidatos, especialmente por conta da ainda delicada questão fiscal do País.

B.Side Investimentos – Vimos recentemente no Brasil uma forte entrada de recursos estrangeiros no País que impactou diretamente o real e a Bolsa brasileira. Esse fluxo ainda tem espaço para continuar?

Helena Veronese – Quando o Fed iniciou o processo de alta de juros, a percepção geral era de que o movimento seria moderado e, com isso, o diferencial de juros entre Brasil e EUA ainda justificaria a entrada de investidores estrangeiros no Brasil. O diferencial segue sendo muito grande, mas quanto mais o Fed endurece seu discurso, menor vai ficando a precificação em torno deste diferencial, o que faz com que a tendência passe a ser de uma menor entrada. O fluxo não deve cessar por completo, até porque com a Rússia em guerra o Brasil passa a ser uma das melhores opções entre os emergentes, mas de fato podemos ver um movimento de entrada um pouco menor nos próximos meses.

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