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Helena Veronese

Economista-chefe da B.Side Investimentos.

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Onde se encaixa a peça da China no tabuleiro econômico global?

Onde se encaixa a peça da China no tabuleiro econômico global?

2023 promete ser um ano de desaceleração econômica global, com possibilidade de potências, inclusive, entrarem em recessão. É o caso, por exemplo, dos EUA e de algumas das maiores economias europeias. No entanto, a China desponta na ponta oposta, podendo atenuar, de alguma forma, os impactos que serão sentidos ao redor do mundo. Veremos neste ano a retomada da segunda maior economia do planeta, com um mercado consumidor interno de 1,4 bilhão de pessoas, e que estava há praticamente três anos fechado.

A China foi um dos últimos países do mundo a reabrir sua economia desde o começo da pandemia de covid-19, em meados de 2020. No auge da crise, o governo chinês até ensaiou um relaxamento das medidas de isolamento, contudo a vacinação atrasada da população fez com que o cenário culminasse em uma explosão de casos pela doença e saturação do sistema de saúde. Desde então, cautela foi a palavra de ordem do líder chinês Xi Jinping, que inclusive reforçou a política de restrição à mobilidade em seu discurso no XX Congresso do Partido Comunista, em outubro de 2022. Mas agora o panorama ganha outros contornos, frente aos avanços na cobertura vacinal, especialmente entre os mais velhos, e, não menos importante, a fraqueza econômica da segunda maior economia do planeta.

Sobre o cenário econômico, especificamente, o PIB chinês cresceu 3% em 2022, em seu pior desempenho desde 1976. Vale destacar, ainda, que o governo tinha uma previsão pessimista de 3,5%, e o número ficou ainda abaixo da estimativa. O que se espera, agora, é que com a reabertura da economia o pior momento fique para trás e a China cresça em torno de 5%. Isso significa que, se as projeções se confirmarem, teremos um país com 1,4 bilhões de habitantes com um crescimento que passaria de 3% para 5%, um delta de crescimento considerável. Vale ressaltar, ainda, que embora este crescimento deva seguir o novo padrão chinês, isto é, baseado no consumo interno, setores que historicamente são importadores de commodities, como o imobiliário, não ficarão de fora – e não tem como isso não impactar a economia global como um todo.

Nos últimos meses, apesar de ser um período ainda curto para análise, já conseguimos observar alguma recuperação. O PMI de manufaturados de fevereiro apresentou ligeira melhora, mas o que surpreendeu mesmo foi o de serviços do mesmo mês, saindo de 36 para 52 pontos, um avanço gigantesco. Para efeito de comparação, no último mês, o PMI dos Estados Unidos de serviços em fevereiro subiu de 44,7 para 46,8 pontos. 

Ou seja, a China está andando em linha com outras reaberturas após a pandemia, com disparada do setor de serviços. O ponto negativo é que a inflação virá junto, e a China, que até então não era uma preocupação global, passará a ser – mas em um momento de condições monetárias globais bem mais apertadas do que o que aconteceu quando EUA e Europa viram sua inflação explodir, o que tende a amenizar o quadro.

Impacto em outras economias

A recuperação da atividade econômica da China deverá impactar, num primeiro momento, seus vizinhos do Sudeste Asiático, especialmente pelo setor de turismo e imobiliário, já que a população chinesa não só viaja pela região, como também compra imóveis para veraneio e férias. Em menor proporção, o turismo também impacta na Europa, mas os efeitos são mais tímidos.

O segundo impacto é para os países exportadores de commodities, caso do Brasil. Aqui, há um questionamento: a China voltará a crescer no modelo antigo de infraestrutura, com o governo estimulando o mercado imobiliário? Ou o crescimento vai se apoiar no mercado interno? No primeiro caso, o Brasil se beneficia (e muito) via exportação de minério de ferro, que tem na China seu principal destino. No segundo, embora os impactos financeiros sejam um pouco mais modestos, o Brasil também tende a se beneficiar, uma vez que a China é também o principal destino das exportações de carnes brasileiras. Até aqui, o governo tem dado sinais de que o modelo da retomada será um mix de consumo interno, com políticas voltadas ao resgate do setor imobiliário – que responde por cerca de 30% do PIB chinês e passa por um período de extrema fragilidade. Fato é que de um jeito ou de outro, nos parece bastante claro que economias emergentes exportadoras de commodities tendem a se beneficiar de maneira geral, e o Brasil em particular.

Por fim, não podemos deixar de falar no impacto global da reabertura da segunda maior economia do mundo: de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o crescimento chinês em 2023 deverá contribuir com um quarto do crescimento global. O Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano) foi além, e fez um estudo mostrando que um acréscimo de 1% do crédito para a população chinesa elevaria em 0,3% o PIB global, além de quase 1% a produção industrial global, justificado pela massiva quantidade de países que exportam para a China. Ou seja, há um impacto gigantesco também na cadeia global como um todo.

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