
📍O Copom manteve a taxa Selic em 10,5% a.a. em decisão unânime e em linha com o esperado pelo mercado. O comunicado, que adotou um tom bastante duro, trouxe algumas mudanças e sinalizações bastante relevantes.
📍Projeções de inflação: o Copom deixou suas projeções para 2024 e 2025 como uma nota de rodapé, substituindo-as pela projeção para o primeiro trimestre de 2026 – que ficou em 3,4% no cenário de referência e 3,2% no cenário alternativo.
📍Ao falar do balanço de riscos, o comitê citou 3 riscos de alta e 2 riscos de baixa para inflação (diferente das reuniões anteriores, em que falava de 2 riscos para cada lado). Aqui, a novidade ficou por conta do acréscimo de políticas econômicas internas e externas com impacto inflacionário, “por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais elevada”.
📍Sim, o Banco Central está preocupado com a desvalorização do real, e deixou isso em evidência no comunicado.
📍No que diz respeito à política fiscal, o Copom diz que a percepção do mercado com esta questão tem impactado as expectativas e preços de ativos. Com isso, o comunicado tornou a dizer que uma política fiscal comprometida contribui com a ancoragem da inflação.
📍Sobre a inflação em si, o comunicado diz que o processo de desinflação do IPCA está arrefecendo, e que as medidas subjacentes seguem acima da meta.
📍Dito isso, o Copom anuncia a manutenção da taxa Selic em 10,5% a.a. e se diz vigilante, reforçando que “eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.” Ou seja, não se descarta uma alta na taxa Selic. Diz, ainda, que os juros permanecerão contracionistas até que se consolidem o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas.
O que achamos
A decisão de hoje era esperada muito mais pelo comunicado do que pela decisão em si, já que a manutenção dos juros era esperada por praticamente todo o mercado. A dúvida ficava em torno, portanto, de uma única questão: o Copom vai sinalizar alta de juros a partir de setembro, como já está precificado na curva? E aí, embora não tenha se comprometido com os próximos passos, o Copom trouxe, sim, uma postura ainda mais cautelosa que na decisão anterior.
Ao falar de política fiscal, mercado de trabalho, desancoragem das expectativas e depreciação cambial o BC deixou bastante claro não só que os motivos de preocupação são muitos, mas também que eles cresceram desde a última reunião (como foi o caso do câmbio). Por que, então, não sinalizar uma alta? Porque seria no mínimo arriscado se comprometer com uma alta de juros no mesmo dia em que o Fed, o banco central norte-americano, sinaliza que deve começar a cortar os juros em breve.
Por mais que o Copom diga que não existe uma relação mecânica entre a política monetária dos EUA e a nossa, é claro que sofremos influência de um corte de juros por parte do Fed. Ele pode, por exemplo, enfraquecer o dólar em relação ao real, tirando da frente um dos riscos de alta para inflação.
Assim, ao invés de sinalizar o que a curva já precifica, o Copom optou, corretamente, por deixar claro que o cenário está delicado, mas que os próximos passos dependerão a evolução dos indicadores e preços de ativos.
A nosso ver, são duas as questões centrais que serão acompanhadas mais de perto: a política monetária norte-americana e seus impactos no câmbio, com peso maior, e a política fiscal brasileira e seus impactos na desancoragem das expectativas, com peso um pouco menor. Diante da eminência de um corte de juros nos EUA, nosso cenário base, com aumento considerável de risco, ainda contempla a manutenção da taxa Selic em 10,5% até o final de 2024 – uma revisão ou não dependerá do comportamento de algumas variáveis nas próximas semanas.
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