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Balanço de outubro: segunda onda de covid-19 e indefinição sobre pacote fiscal nos EUA derrubam mercados

Balanço de outubro: segunda onda de covid-19 e indefinição sobre pacote fiscal nos EUA derrubam mercados

O aumento da aversão ao risco voltou a ditar os rumos dos mercados internacionais no mês de outubro, principalmente com o agravamento da pandemia de covid-19 na Europa e nos Estados Unidos.

O anúncio de um novo lockdown na França e na Alemanha, as duas principais economias da zona do euro, deixou os investidores ainda mais pessimistas, já que novas restrições deixam o cenário nebuloso sobre a recuperação econômica da região. Além disso, há atenção a respeito da possibilidade de Estados americanos também adotarem novamente medidas de isolamento.

Na segunda onda do coronavírus, o número de óbitos na Europa é menor do que na primeira vez, ao mesmo tempo que o número de casos confirmados é maior. Alguns fatores podem explicar o fenômeno como testagem mais massiva, contaminação da população mais jovem e um sistema de saúde melhor preparado para lidar com a doença.

Apesar do novo surto, indicadores econômicos da região mostraram recuperação, com resultados melhores do que o previsto por analistas. O Produto Interno Bruno (PIB) da zona do euro registrou alta de 12,7% no terceiro trimestre, ante uma queda de 11,8% no trimestre anterior. Já a economia da Alemanha teve aceleração de 8,2% no terceiro trimestre, deixando para trás um recuo de 9,7% no segundo trimestre.

Investidores também acompanharam a novela em torno das negociações entre republicanos e democratas por um novo pacote fiscal trilionário nos Estados Unidos, que terminou sem definição, deixando a possibilidade de um acordo apenas para depois das eleições presidenciais americanas.

A disputa que acontecerá no dia 3 de novembro, envolvendo o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump, é observada de lupa pelo mercado, que já precifica um favoritismo de Biden, segundo pesquisas eleitorais. O presidente Trump, inclusive, foi infectado pelo coronavírus durante sua campanha de reeleição, perdendo mais de uma semana em tratamento contra a doença. Até hoje, somente 10 dos 45 presidentes não tiveram um segundo mandato, sendo apenas quatro derrotas no século passado.

E, depois de mais de sete meses de negociação, um acordo para uma saída amigável do Reino Unido da União Europeia (UE) parece estar mais próximo. Apesar da cautela ainda predominar, há a expectativa de que um acordo possa ser formalizado no início de novembro.

Com tantos fatores de risco, as bolsas de Nova York encerraram outubro em queda. O índice Dow Jones teve recuo mensal de 4,60%, assim como o S&P 500 e o Nasdaq, com baixas de 2,70% e 2,29%, respectivamente. Na Europa, o índice FTSE 100, de Londres, o DAX, de Frankfurt, e o CAC 40, de Paris, se desvalorizaram 4,92%, 9,44% e 4,36%, nesta ordem.

No âmbito corporativo, as bigh techs Apple, Amazon, Facebook e Alphabet (dona do Google) registraram lucro líquido de US$ 38,08 bilhões no terceiro trimestre ante US$ 20 bilhões em comparação com o mesmo período do ano passado. Já o faturamento foi de US$ 220,28 bilhões, desempenho superior aos US$ 200 bilhões do terceiro trimestre de 2019.

Os contratos futuros de petróleo também foram impactados em outubro, fechando no menor valor em cinco meses, com dúvidas sobre a recuperação da demanda da commodity com a adoção de restrições em diversos países, apesar de parte da produção nos EUA ter sido interrompida por questões climáticas no Golfo do México. O petróleo do tipo WTI com vencimento para dezembro de 2020 foi o mais penalizado, depois de desabar mais de 11%, a US$ 35,79 o barril. Já o tipo Brent para o mesmo mês, utilizado como referência para a Petrobras, teve decréscimo superior a 10%, a US$ 34,92 o barril.

Cenário doméstico

O Ibovespa até tentou escapar da sangria vista no exterior, mas sofreu um forte tombo na última semana do mês, quando se desvalorizou 7,39%, mantendo assim uma série negativa de três meses consecutivos no vermelho. No fechamento de outubro, o principal índice da B3 se desvalorizou 0,69%, aos 93.952,40 pontos, acompanhado das perdas de 3,44% em agosto e de 4,80% em setembro.

A Bolsa perdeu praticamente toda a sua valorização do mês no pregão de 28 de outubro, quando afundou 4,25%, a maior baixa em uma única sessão desde 24 de abril, data em que o índice desabou 5,45%. A temporada de balanços do terceiro trimestre, com destaque para os resultados de Petrobras, Vale, Ambev, Santander e Bradesco, ficaram em segundo plano diante da grande aversão a risco no mercado.

As preocupações fiscais do Brasil seguiram impactando o mercado de câmbio, que operou bastante volátil. Um dos grandes pontos de atenção foi a possibilidade de o programa Renda Cidadã comprometer o teto de gastos, que culminaria em uma trajetória fiscal explosiva, aumentando as incertezas sobre a saúde das contas públicas e o andamento da agenda de reformas. O dólar à vista registrou alta de 2,13% em outubro. Na máxima, a moeda americana ultrapassou a marca de R$ 5,80, enquanto, na mínima, atingiu R$ 5,48. No ano, tem valorização de 43,10%.

Na penúltima reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve inalterada a Selic, a taxa básica de juros, no piso histórico de 2% ao ano, em linha com a previsão do mercado. Na ata que trouxe o comunicado da decisão, o Banco Central trouxe previsibilidade aos agentes, afirmando que os juros devem continuar em patamares baixos, ao mesmo tempo em que reafirmou as preocupações com a inflação e o quadro fiscal do País.

No mercado de juros futuros, a curva abriu, impulsionada pelo aumento das taxas no mundo, pelo risco fiscal e pelo risco de pressão inflacionária, com os investidores apresentando menor apetite por títulos de médio e longo prazo, cobrando assim prêmios maiores para estes papéis. Comparando com 30 de setembro, o DI para janeiro de 2022 subiu a 3,44% (ante de 3,05%); assim como janeiro de 2023, +5,02% (de 4,51%); janeiro de 2024, +6,10% (de 5,71%), janeiro de 2025, +6,75% (de 6,50%); janeiro de 2027, +7,54% (de 7,48%); e janeiro de 2029, +7,98% (de 8,03%).

Entre os indicadores econômicos, a surpresa veio após a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial do País, que acelerou 0,94% em outubro, o que representou a maior alta para o mês nos últimos 25 anos, pressionado pelo aumento do preço dos alimentos. No ano, o IPCA-15 acumula valorização de 2,31%, e aceleração de 3,52% nos últimos 12 meses.

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