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Fundo da Quasar especializado em bonds de emergentes aposta em Banco do Brasil e setor imobiliário na China

Fundo da Quasar especializado em bonds de emergentes aposta em Banco do Brasil e setor imobiliário na China

Há mais de 11 anos no mercado de crédito privado internacional, a antiga gestora Galloway Capital, renomeada como Quasar International desde fevereiro de 2020, concentra mais da metade do portfólio entre Brasil e China no fundo Quasar Emerging Markets HY USD FI Multimercado Crédito Privado Investimento no Exterior, que está em processo de buscar um seed money local, já tendo captado cerca de R$ 600 milhões.

O produto, liderado pelos gestores Nathan Shor e Ulisses de Oliveira, tem como objetivo investir em bonds high yield de mercados emergentes, isto é, títulos de renda fixa emitidos no exterior considerados mais arriscados, com notas de crédito que variam majoritariamente entre B e BB, além de um duration entre 3 e 4,5 anos. O fundo também tem como características ser long only (aposta sempre na alta), não ter alavancagem e não operar derivativos.

Atualmente, o fundo investe em 20 países emergentes, com cerca de 70 nomes, todos listados em bolsa e auditados por uma das grandes agências de classificação de risco, e serve justamente como uma opção de diversificação na carteira do investidor, oferecendo exposição ao mercado internacional. “É uma vantagem para o brasileiro ter exposição ao dólar”, afirma Shor, complementando que o benchmark do fundo está neste momento em dólar mais 9%, sem hedge cambial. “O brasileiro tinha a cultura de não investir em outras moedas, já que o carrego em CDI sempre foi favorável”, complementa José Paulo Perri, diretor de risco da Quasar.

A principal posição do fundo está em bonds de um velho conhecido do investidor brasileiro: Banco do Brasil, com alocação superior a 9%, considerado fora da curva pelos próprios gestores, visto que uma posição relevante do produto gira em torno de 2,5% e a média fica em 1% para cada ativo.

O fundo, dividido em cerca de 70% de títulos corporativos e 30% de soberanos ou semi-soberanos, enxerga o banco brasileiro de capital misto como uma posição confortável, já que em um cenário extremamente pessimista a companhia provavelmente seria capitalizada pelo governo para não falir. “O Brasil é um caso atípico, com nenhum dos grandes bancos perdendo dinheiro durante a pandemia de covid-19. Para o BB virar pó, precisaria perder R$ 50 bilhões”, afirma Shor, adicionando que, por ser um papel híbrido, ele não faz parte de índices e dificilmente é vendido nas mesas de private.

Lá fora, os papéis mais atraentes das companhias do setor bancário são os subordinados (T2) ou perpétuos (T1). Este último é justamente um dos mais atraentes do Banco Brasil, cujo objetivo é emitir uma dívida, mas não piorar seu passivo. “Ao que tudo indica, um perpétuo do BB deverá ser chamado em 2024”, diz Oliveira, lembrando que recentemente o banco anunciou a recompra de US$ 600 milhões de bonds perpétuos com uma taxa de 8,5% ao ano.

Logo atrás da exposição no Brasil, que corresponde a cerca de 26,3%, aparece a China, com posição superior a 20%. Na segunda maior economia do mundo, o setor preferido da gestora é o imobiliário, no qual já vem investindo desde 2009 sem nenhum default (calote). “É um setor que acreditamos muito por ser um bastião da economia chinesa. Sempre que investimentos na China para a renda fixa foi no setor imobiliário”, afirma Oliveira. “O real estate continua indo muito bem, as vendas estão aumentando neste ano, apesar da covid-19. O governo chinês não quer que os preços subam muito”, complementa Shor.

Com títulos considerados mais arriscados do que a média, o gerenciamento de risco se torna parte fundamental do processo de escolha de papéis.

A análise de escolha dos bonds passa por três processos. O primeiro visa entender os fatores políticos e macroeconômicos do país emergente. Depois disso, é feita uma triagem e análise financeira para saber se é viável se aprofundar no estudo de novos nomes, sendo que apenas 10% dos casos passam por essa etapa. Por último, o ativo passa por um filtro de três variáveis: yield to worst (papel ser chamado ou ele vencer), duration e rating.

Em mais de uma década, a gestora acumulou apenas quatro defaults (calotes), sendo dois no Brasil, um na Indonésia e um na Ucrânia. Contudo, as premissas para inclusão de ativos no portfólio já livrou a gestora de negócios que deram bastante prejuízo como OGX, Oi, Odebrecht, OAS. “Achar um papel que paga bem é só pegar uma lista, mas entender o risco que está correndo é mais importante. Queremos evitar dor de cabeça quando trabalhamos com high yield, para não ter default”, afirma Shor.

A principal vantagem de investir no exterior, segundo Ulisses de Oliveira, é pela alta liquidez do mercado lá fora. “O pior bond lá fora é mais líquido que a debênture brasileira mais líquida”, afirma o gestor. Além disso, Nathan Shor diz que o custo de uma operação se torna muito mais viável via fundo, já que para um investidor montar um portfólio de bonds seria necessário abrir uma conta no exterior e desembolsar, no mínimo, cerca de US$ 200 mil.

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