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Fundos multimercado macro juntam os cacos após tombo no Brasil e aumentam posições no exterior

Fundos multimercado macro juntam os cacos após tombo no Brasil e aumentam posições no exterior

2021 definitivamente não tem sido um ano fácil para os fundos multimercados, principalmente os da categoria macro, isto é, aqueles que têm uma estratégia baseada em indicadores e no cenário macroeconômico. Acostumadas a gerar retornos de dois dígitos nos últimos anos, grandes gestoras têm tido dificuldade para entregar uma rentabilidade maior até do que o CDI, atualmente com um rendimento de +2,07% no acumulado deste ano. 

Este é o caso de importantes assets do mercado como Legacy, JGP e Verde, para citar alguns exemplos. Em oito meses de 2021, as casas citadas anteriormente registram um retorno de -2,19%, -1,32% e +1,62%, respectivamente, com números muito abaixo de suas médias históricas. 

Mas o que houve com os fundos multimercado macro?

Apesar da diferença entre as inúmeras gestoras, que adotam diferentes estratégias, é possível traçar um fio condutor em todos os fundos macro ou pelo menos na maior parte deles que justificam por qual motivo o desempenho tem sido tão sofrível.

Em linhas gerais, até a metade de 2021, o mercado tinha uma expectativa muito grande de recuperação da economia brasileira no cenário pós-pandemia, apoiada principalmente pelo avanço da vacinação contra a covid-19.

“Boa parte das casas do universo macro mantinham em carteira apostas estruturalmente pró-Brasil no primeiro semestre. No caso de algumas gestoras, essas apostas eram bastante relevantes”, afirma Juliana Machado, analista de fundos de investimento do BTG Pactual digital em conversa com o B.Side Insights.

E aí é que veio o tombo diante de inúmeros reveses para esse cenário tão otimista. No entanto, havia certo embasamento para tal opinião. “Os gestores têm que se posicionar de alguma forma e havia um subsídio para a opinião ser positiva com Brasil, já que realmente havia um crescimento endereçado”, explica a analista.

Tomado por ruídos políticos e fiscais no meio do caminho, o mercado local adotou uma cautela maior. Somado a isso, houve uma surpresa inflacionária que, na opinião de Juliana Machado, foi o principal ponto para fazer a curva de juros abrir (expectativa de elevação de juros). Assim, o Banco Central teve que adotar uma comunicação mais dura e enfática em relação à alta de juros para ancorar as expectativas dos agentes do mercado, senão haveria uma disparada ainda maior da curva.

“A verdade é que o mercado de juros e a realidade do Brasil não estão conversando, então alguém terá que se ajustar. Ou será a realidade que a curva está mostrando ou a curva terá que refletir o que o Brasil será daqui para frente”, aponta Machado.

Cenário daqui para frente

Na visão do BTG Pactual, a perspectiva para os fundos macro é que a visibilidade fique um pouco melhor daqui para frente. E o que as assets estão fazendo enquanto isso? Comprando ativos no exterior.

Com a aproximação do ano eleitoral, que deverá trazer ainda mais volatilidade para o mercado, gestores enxergam uma recuperação muito mais ordenada da atividade, principalmente nos Estados Unidos, bem diferente do que está acontecendo no Brasil. 

Assim, os fundos multimercado macro stoparam as posições mais relevantes pró-Brasil, ficando “mais leves” e começaram a montar posições em oportunidades com uma relação risco/retorno melhor, notadamente fora do País.

“Lá fora, até temos uma perspectiva de tapering, o que pode enxugar a liquidez global, mas para quem está olhando para ativos americanos há uma perspectiva melhor em linhas gerais”, afirma Juliana Machado. “O gestor é obrigado a gerar retorno no exterior, mas como multimercado macro espera-se que também consiga fazer uma boa leitura do mercado no Brasil.”

Fundos não devem ser analisados em janelas de 6 meses

De acordo com a analista do BTG Pactual, uma janela de seis meses para avaliação de um fundo multimercado macro é um dos piores erros que um investidor pode cometer. 

Segundo ela, apenas um semestre não diz absolutamente nada sobre um produto, porque nesse período há uma chance considerável de haver diversos fatores de aleatoriedade. Ou seja, o investidor estará tomando uma decisão simplesmente por conta de ruídos. 

“Seis meses para tomar esse tipo de decisão costuma ser contraproducente porque os investidores costumam pegar a pior janela para sair e isso acontece, em geral, quando os fundos já fizeram o stop e já estão posicionados de outra forma”, explica Machado.

Ela lembra, inclusive, que anos ruins fazem parte de um investimento em fundos multimercado, assim como em qualquer fundo que exija um prazo de alocação de 3 a 5 anos.

Mas em qual caso o investidor deve solicitar o resgate das cotas? Em caso de perda de fundamento, ou seja, não acreditar no que o gestor está fazendo.

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